Novas mensagens mostram que Miller usou JBS como trunfo para contrato milionário na advocacia
Tinta fresca Novos documentos anexados à apuração sobre a participação do ex-procurador Marcello Miller na delação da JBS devem ajudar os investigadores a traçar uma linha do tempo precisa do caso e delimitar a participação de cada agente no processo que deflagrou o maior escândalo do governo Michel Temer. Tratam-se de mensagens de texto trocadas por Miller e pela advogada Esther Flesch, ex- sócia do escritório Trench Rossi Watanabe.
Os dados foram recuperados de um telefone funcional de Flesch e juntados aos autos da apuração a pedido da PGR e por determinação do ministro Edson Fachin, do Supremo, em dezembro.
Segundo o Painel apurou com fontes que acompanham a investigação, as comunicações pelo telefone eram ainda mais explícitas do que as travadas pela advogada e pelo o ex-procurador por e-mail.
Nas mensagens, ainda em fevereiro de 2017, Miller trata o contato com os irmãos Joesley e Wesley Batista como um trunfo para negociar, por meio de Flesch, com o TRW. O conteúdo da conversa pelo aplicativo deixa claro que é o ex-procurador quem leva o cliente até Flesch –Miller chegou a negar que sua atuação tivesse sido decisiva para a empresa fechar com a banca.
Ainda em fevereiro, o ex-procurador escreve a Esther que teria um novo cliente, um negócio grande. Depois, deixa claro que fala da JBS. Na época, ele ainda integrava os quadros da PGR, onde atuou como ponta de lança na negociação de delações importantes e que envolveram grampos de autoridades, como a que levou o ex-senador Delcídio do Amaral à prisão. O presidente Michel Temer foi gravado por Joesley Batista em 7 de março.
Neste mês, Miller e Flesch já debatiam abertamente pelo telefone não só a estratégia para firmar um acordo de leniência para a J&F como também deixavam claro que ele acompanhava as tratativas da delação dos irmãos Batista.
O ex-procurador e a advogada chegaram a falar em uma bonificação de até R$ 40 milhões pelos resultados que obteriam com a leniência da empresa. Como se sabe, eles acabaram não embolsando o valor e perdendo o emprego no TRW quando as suspeitas de que o ex-procurador atuou dos dois lados do balcão vieram a tona.
Oficialmente, Miller só deixou a PGR no dia 5 de abril de 2017.
Procurado, o escritório TRW disse que não iria se pronunciar. À Justiça, a banca informou que não tinha conhecimento das tratativas de Miller e Flesch, que foram travadas à margem de seus sócios.
Flesch sempre negou irregularidades. Seu advogado, Fábio Tofic, diz que “a conversa citada prova que quando Miller mencionou a possibilidade de indicar a JBS, a proposta do TRW já havia sido feita e sua contratação estava praticamente finalizada”.
Miller chegou a dizer aos procuradores que fez uma “lambança”, mas não um crime. Em nota, a defesa do ex-procurador afirmou que “as mensagens somente comprovam que não houve qualquer prática criminosa”.
“Miller estava apenas deixando o cargo de procurador para ingressar na iniciativa privada, momento em que algumas tratativas preliminares são naturais, já esclarecidas às autoridades competentes.”
O Painel não localizou os representantes de Joesley Batista.
Leia a íntegra do Painel aqui.