Esquerda vê risco de a possível soltura de Lula reorganizar apoio a Bolsonaro
Tal como o ímã para o metal A chance de Lula deixar a carceragem da PF por decisão do STF ou da juíza provocada a analisar sua progressão para o semiaberto fez integrantes do PT debaterem o impacto da mudança de cenário. Para além da certeza de que ele, se plenamente livre, vai querer rodar o país, há a percepção de que a saída da prisão tende a reavivar a polarização com Jair Bolsonaro. A dúvida é se o efeito colateral desse movimento não auxilia o presidente justo no momento em que a direita está fragmentada.
De carne e osso Alguns quadros do PT confidenciam, em privado, temer que o retorno de Lula ao cotidiano da política reagrupe a direita, dando a ela um inimigo comum –e a Bolsonaro combustível para ataques sobre o risco de a esquerda retomar o poder.
Timing Alguns integrantes da sigla ponderam que Bolsonaro vive momento de fragilidade, sem o apoio sólido do centro, com o partido rachado e em pé de guerra, e movimentos de direita estremecidos pela claudicância do Planalto na defesa da pauta anticorrupção. O “fator Lula”, avaliam, poderia suplantar tudo isso.
Tudo no script Mas há, claro, numerosa ala que vê o efeito rebote como natural e esperado. Esses dizem que, desde a década de 1980, o PT ocupa um dos lados da polarização, seja contra Collor ou contra o PSDB, seja como o alvo no comando do Planalto.
Vá com Deus Líderes do Legislativo próximos ao governo acreditam que a viagem internacional do presidente, neste sábado (19), deve ajudar a baixar a fervura e reagrupar o PSL. Hoje, esse grupo vê o partido como um avião com 53 passageiros que está em queda, mas tem apenas 30 paraquedas: só um acordo salva.
Deixa disso Pai do presidente da CCJ da Câmara, o deputado estadual Fernando Francischini (PSL-PR) diz que abre mão dos cargos que tem na direção do partido para apaziguar a relação com Bolsonaro.”Não tenho apego às funções que meu grupo ocupa. Se ele quiser colocar alguém no meu lugar, pode pôr.”
Deixa disso 2 A mulher de Francischini é secretária-geral da sigla. No diretório nacional, ele indicou outros postos.
Quando um não quer… O problema é que nenhum dos dois lados dá sinal de trégua. Luciano Bivar, presidente do PSL, tem dito que Jair Bolsonaro quer sua “rendição total” –e que isso não haverá.
Ao Deus dará A equipe econômica avalia apresentar toda a sua agenda, classificada por auxiliares do ministro Paulo Guedes (Economia) como uma “solução sistêmica” para as finanças do país, ainda neste ano, mesmo que parte dela fique na chuva durante o recesso parlamentar, à espera do retorno das votações.
Pago para ver Políticos costumam evitar essa estratégia para impedir que projetos recebam críticas da oposição sem que a base esteja organizada para responder. Para o time econômico, porém, as reformas e a proposta apelidada de DDD (por desindexar, desobrigar e desvincular o Orçamento) reagirão bem a um tempo de maturação.
Prorrogação O governo vai esperar a instalação da comissão mista, formada por deputados e senadores, para só então enviar sua proposta reforma tributária. O primeiro texto será focado apenas nos tributos federais.
Vai ter luta Integrantes do Conselho Nacional do Ministério Público estudam recorrer da decisão judicial que travou o avanço de uma das representações contra Deltan Dallagnol no colegiado. O argumento seria o de que só o STF pode interferir no CNMP.
Puxa a fila A absolvição de Michel Temer da acusação de obstrução de Justiça formulada por Rodrigo Janot animou a defesa de Aécio Neves (PSDB-MG). Advogados do tucano estudam ir ao CNMP contra o ex-procurador sob o argumento de que ele escondeu aspectos da negociação da delação da JBS.
Minha deixa Na sentença de Temer, o juiz disse que o MPF manipulou o conteúdo do grampo feito por Joesley Batista, desconsiderando cortes e interrupções. A defesa de Aécio junta documentos que apontam que Joesley esteve na PGR horas antes de gravá-lo. Quer levantar a tese de que o tucano foi alvo de um flagrante armado, o que é proibido.
TIROTEIO
A crise no PSL mostra que o presidente só se preocupa em cuidar dos filhos e dos próprios interesses, e não dos do Brasil
Do deputado Alessandro Molon (PSB-RJ), sobre a guerra interna no partido de Jair Bolsonaro que domina há dias o noticiário político