Chocados com retórica de Bolsonaro, congressistas discutem podar MPs e decretos do presidente
Sem asas para cobra A ofensa disparada por Jair Bolsonaro ao presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, chocou a elite do Congresso e do Judiciário. Líderes e dirigentes de partidos dizem que os arroubos retóricos estão em escalada e pregam uma reação do Parlamento. Além da condenação dos destemperos verbais, deputados passaram a defender que o Congresso avalie extinguir a figura das medidas provisórias e derrubar todo decreto em que o capitão exorbitar de suas funções, independentemente do conteúdo.
Serial O deputado Marcelo Ramos (PL-AM), por exemplo, vê no excesso de medidas provisórias e decretos um método para burlar o Parlamento. “Defendo que a gente reaja a todo e qualquer decreto que extrapole a prerrogativa do presidente”, afirma.
Serial 2 “O problema não é só de conteúdo, a prática de passar por cima do Congresso é que é grave”, conclui.
Limite Ministros do STF se solidarizaram com o presidente da OAB e trataram a fala de Bolsonaro como especialmente infeliz. “Faz troça da dor alheia, algo inaceitável”. Ele disse que poderia contar o que aconteceu com o pai de Santa Cruz, preso pela ditadura e desaparecido desde então.
Diga Familiares de Fernando Santa Cruz —pai de Felipe cujo corpo jamais foi encontrado— vão pedir à Comissão Interamericana de Direitos Humanos que se manifeste sobre a fala de Bolsonaro. Ocultação de cadáver é crime permanente. Logo, dizem, se o presidente sabe de algo, deve falar.
Para todos A Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos enviou ofício à Presidência no qual solicita agenda com o presidente ou um porta-voz que possa repassar ao grupo as informações que ele disse ter não só sobre o pai de Santa Cruz, mas sobre o paradeiro de corpos buscados por mais de 130 famílias.
Pessoal Neto de Mário Covas (1930-2001), que teve os direitos políticos cassados pela ditadura, o prefeito de SP, Bruno Covas (PSDB), repudiou o discurso de Bolsonaro. “Absurdo, inaceitável, incompatível com a República democrática”, afirmou.
Pessoal 2 “O presidente precisa falar menos e governar mais. A sociedade não vai tolerar posturas antidemocráticas e gestos de intolerância. Como advogado, me solidarizo com a OAB; como cidadão me indigna comportamento que vai contra o processo civilizatório”, disse.
Tiro, porrada… O senador Major Olímpio (PSL-SP) entrou com representação no comitê de ética do partido contra Alexandre Frota (PSL-SP). Ele diz que vai processar o deputado por danos morais. Motivo: uma série de tuítes publicados na semana passada.
…e bomba Neles, Frota diz que o senador instalou “uma milícia de ex-PMs” no PSL. Sobre a pressão de Olímpio, o deputado diz que mostrará que ele e a deputada Joice Hasselman (PSL-SP), sua aliada, não estão isolados no partido.
Como está, fica Cogitada para agradar Bolsonaro, a mudança de nome do PSL é descartada com veemência por Luciano Bivar (PE), dirigente nacional da legenda. Ele argumenta que a sigla “não muda ao sabor dos eventos”.
Comigo não Dirigentes do Cidadania negam ter feito qualquer conversa sobre 2020 com o ex-governador de SP Márcio França (PSB). Em nota, a legenda afirmou que, “se conversou com alguém da direção do Cidadania, França conversou com a ‘direção’ errada”.
Menos é menos Assim como Bolsonaro, a ministra Damares Alves (Direitos Humanos) minimizou a denúncia de que garimpeiros tomaram a terra indígena Waiãpi, no Amapá. A ministra contou, inclusive, ter recebido mensagem de prefeita da região pedindo desculpas por ter “exagerado” no pedido de ajuda federal.
Cabelo em pé A condução das negociações com caminhoneiros tem deixado empresários inquietos. Além do tabelamento do frete, dizem, o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) debate pactuar margem de lucro e cota obrigatória de contratação de autônomos. Há críticas a “medidas intervencionistas” e que possam dar margem à caracterização de cartel.
Visita à Folha José Renato Nalini, presidente da Academia Paulista de Letras, visitou a Folha nesta segunda (29).
TIROTEIO
Fala desumana e ainda mais lamentável porque veio de quem deve dar exemplo de respeito à democracia e às instituições
De Fernando Mendes, da Ajufe, sobre Bolsonaro ter dito que poderia contar como o pai do presidente da OAB desapareceu na ditadura