Ministros do Supremo criticam filho de Bolsonaro e dizem ver ‘autoritarismo e despreparo’

O grito preso na garganta Se houve silêncio diante do público, nos bastidores do Supremo a gravação em que Eduardo Bolsonaro (PSL) diz que “um soldado e um cabo” bastam para fechar o STF causou forte alarido. Para ministros, o vídeo evidencia “autoritarismo e despreparo”. “Tribunais só são peças dispensáveis na ditadura”, afirmou um magistrado. “E o que temiam, aconteceu. Há investigação no TSE e eles vão ter que conviver com essa sombra.” Dias Toffoli, presidente da corte, está sob pressão para responder.

Premonição O filme que viralizou é o trecho de uma palestra de Eduardo a alunos de um cursinho para ingressar na PF, em julho. A polêmica fala foi feita durante resposta a um aluno que perguntou se ele descartava uma ação do STF para impedir a eleição do pai —e uma consequente reação das Forças Armadas.

Vidente Antes de falar em tom de galhofa sobre o hipotético fechamento do Supremo, Eduardo disse que não achava impossível que usassem uma doação irregular de “R$ 100 do José da Silva” para impugnar a candidatura de Bolsonaro.

Força do pensamento O presidenciável agora é alvo de investigação pelo escândalo do WhatsApp, revelado pela Folha. É a esse caso que o ministro do Supremo ouvido pelo Painel se referiu como sombra.

Boca suja Um outro magistrado do STF fez muitos comentários sobre o linguajar usado pelo filho de Bolsonaro ao longo da palestra. Com o evento em clima descontraído, Eduardo disse diversos palavrões.

Para matar No início da palestra, o filho de Bolsonaro falou sobre o ingresso na PF —ele é escrivão— e descreveu a rotina na corporação. Ele criticou quem não defende polícia letal. “Policial treinado para atirar na perna?”, ironizou. “Policiais morrem por medo de apertar o gatilho.”

Uma oitava acima O discurso gravado por Jair Bolsonaro (PSL) para os eleitores que foram às ruas neste domingo (21), em SP, intrigou alguns opositores. Guilherme Boulos (PSOL) comentou que, mesmo em vantagem, o capitão reformado não baixa o tom.

Avisado “Ele deixou claro que opositor tem dois caminhos: sair do país ou ir preso”, disse Boulos. “Esse discurso empodera todo tipo de maluco.”

Pedágio Aliados de Bolsonaro que têm conversado com Rodrigo Maia (DEM-RJ) sobre a sucessão na Câmara deram a entender que ele poderia ter o apoio do grupo que apoia o presidenciável para se reeleger comandante da Casa se aprovasse a reforma da Previdência ainda este ano.

Devo, não nego Maia explicou que não tinha como garantir a votação de mudanças nas regras de aposentadoria. Ainda assim, aliados do democrata dizem que são grandes as chances de terem o apoio da base que se aliará a Bolsonaro caso ele vença a eleição.

Se não pode vencê-lo… Maia acha que consegue atrair siglas da oposição, como PT e PC do B. Nesse cenário, para que ele não se reeleja presidente da Câmara só com esses votos, dizem aliados, os bolsonaristas seriam forçados a aderir.

Terapia de grupo O presidente Michel Temer reuniu aliados e advogados no fim da última semana para, juntos, esquadrinharem o indiciamento produzido pela Polícia Federal no inquérito dos portos.

Deixa estar O grupo disse que há buracos na peça produzida e que, agora, não é momento para reações agudas. Ao fim da reunião, Temer e os aliados decidiram aguardar o posicionamento que virá da Procuradoria-Geral da República.

Brasil no espelho A polarização entre Bolsonaro e Fernando Haddad (PT) também divide aliados do presidente. Enquanto alguns auxiliares já declararam apoio ao nome do PSL, outros admitem votar no petista —mesmo após terem sido chamados de golpistas.

Zera o jogo Com o processo já instruído, o presidente do TCU, Raimundo Carreiro, avisou que deve sortear novo relator para o pedido de submeter a OAB à auditoria da corte.


TIROTEIO

É incrível que pessoas que defendem o Estado de Direito se omitam de condenar uma atitude como essa que vimos

De José Eduardo Cardozo, ex-ministro da Justiça, sobre Eduardo Bolsonaro ter dito que, para fechar o STF, basta um cabo e um soldado