Datafolha reforça dilema petista entre esticar corda com Lula ou lançar Haddad
O feitiço do tempo O novo Datafolha tende a reforçar dilema vivido hoje pelo PT: quando lançar Fernando Haddad como o escolhido de Lula? Inicialmente, a pesquisa deve estimular ala do partido que quer esticar a candidatura virtual do ex-presidente até o limite, só que ela também indica os riscos que seu herdeiro vai abraçar se for apresentado tardiamente ao eleitor. No Nordeste e no Norte, os bastiões do lulismo, Haddad ostenta seus maiores índices de desconhecimento: 51% e 54%, respectivamente.
Famoso quem? Um detalhamento dos dados do Datafolha ilustra o desafio de Haddad. Além dos 51% de nordestinos que dizem não saber quem ele é, outros 29% afirmam que o conhecem, mas “só de ouvir falar”. No Norte esse grupo soma 26%. No total, 52% dos eleitores de Lula não sabem quem ele vai apoiar.
Locutor Na prévia do primeiro programa do PT para o horário eleitoral, Haddad, hoje vice de Lula, abre a peça falando sobre o pedido de registro da candidatura do petista no TSE. Ele diz que muita gente não acreditava no ato. “Achavam que o povo ia abandoná-lo. Que nós íamos abandoná-lo. Nada disso aconteceu.”
Editado Em seguida, ao lado de militantes, Haddad brada: “Está registrado o homem!”. É a deixa para a apresentação de gravação inédita de Lula, feita antes de ele ser preso. Ele prega contra a política “que só fala em corte e só corta dos mais pobres” e não menciona suas condenações ou a Justiça.
Corta e cola O filme, de acordo com integrantes da legenda, é híbrido e pode ser editado para ser ir ao ar na estreia do horário eleitoral com Lula ou Haddad na cabeça de chapa.
Vida como ela é Arthur Virgílio (PSDB-AM), que se engalfinhou com Geraldo Alckmin (PSDB-SP) para tentar ser o candidato a presidente, vai coordenar a campanha do paulista no Amazonas.
Crise doméstica Em São Paulo, segundo o Datafolha, Jair Bolsonaro (PSL) está numericamente à frente de Alckmin: registra 21% contra 18% do tucano, ex-governador do estado.
Fala… Bolsonaro começou a gravar vídeos para a campanha na TV. Em um dos filmes, fala diretamente a prefeitos. Com palavras de ordem, ele defende a descentralização de recursos federais.
… que te escuto “Mais Brasil e menos Brasília” e “É preciso dividir o poder com o resto do país” são motes do roteiro.
Grito de guerra Bolsonaro vai dizer neste filme que o repasse de dinheiro para as prefeituras evita corrupção e gera eficiência na governança. A campanha também estuda inserir nas propagandas falas em ele se defende de acusações de misoginia e homofobia.
Uma por todas Adversários do candidato do PSL monitoraram em grupos de pesquisas qualitativas a percepção de eleitoras sobre o embate entre Bolsonaro e Marina Silva (Rede) no último debate, na RedeTV!. Elas aprovaram a atitude da ex-senadora.
A maçã de eva Segundo o Datafolha, 43% do eleitorado feminino rejeita Jair Bolsonaro. Entre os homens, ele é rechaçado como candidato por 35%.
Por que não eu? A defesa de Henrique Meirelles (MDB) vai rebater no TSE argumento dos advogados de Geraldo Alckmin para enterrar a impugnação da coligação tucana. O MDB alega que, como a questão impacta o tempo de propaganda de todos os candidatos, tem legitimidade para fazer o questionamento.
Água na fervura Meirelles escalou bombeiros para acalmar a ala do governo que se irritou com sua ofensiva sobre a aliança de Alckmin.
TIROTEIO
A conjuntura antipolítica, a frágil cultura democrática e o caráter demagógico de Bolsonaro dificultam sua desconstrução
De Esther Solano, socióloga e professora da Unifesp, sobre a resiliência do voto de Jair Bolsonaro, que se mantém na dianteira das pesquisas
CONTRAPONTO
Pane no sistema
No início de 2015, prestes a completar quatro meses no PSOL, seu antigo partido, o deputado Cabo Daciolo (Patriota-RJ) disse a colegas da sigla que acabara de ter uma iluminação.
–Todos aqui vão sofrer uma grande tribulação. E vão se converter!– previu.
Os correligionários, àquela época ainda pouco afeitos às profecias de Daciolo, se entreolharam com cara de espanto.
Chico Alencar (PSOL-RJ), com um gracejo, quebrou o gelo:
–Eu, que sou cristão, só poderia me converter se fosse para me tornar ateu!