Com Lula preso e fora de cena, cúpula petista teme acefalia e guerra interna
Corpo sem cabeça Na noite de sexta (6), quando já estava resolvido que a prisão de Lula seria apenas uma questão de tempo, integrantes da cúpula do PT confessaram, dentro do Sindicato dos Metalúrgicos, temer o dia seguinte à saída do petista de cena. Esses dirigentes reconhecem o risco de acefalia e têm receio de que, com a ausência de seu principal líder, a sigla mergulhe em inédita guerra interna. O bate-cabeça que quase impediu o ex-presidente de se entregar mostra que há motivos para antever o pior.
Meu limite Informações que circularam na imprensa e atribuíram a mobilização da militância que tentou impedir a saída de Lula do sindicato a uma orientação dos petistas irritaram a direção da PF, que subiu o tom e impôs uma trava às negociações.
Carne viva Aliados de Lula chegaram a sugerir que ele se entregasse de madrugada, em ambiente mais ameno, mas a polícia não aceitou. Emparedado pelo órgão, o PT decidiu que o ex-presidente sairia a pé. Um dos filhos de Lula sugeriu a formação de um cordão humano só com apoiadores do ex-presidente.
Carne viva 2 Uma pessoa que acompanhou as negociações e a escalada de tensão disse que os petistas optaram por “colocar as próprias vidas em risco” para cumprir a ordem de prisão e evitar o agravamento da situação jurídica de Lula.
Nova sede Com a detenção do ex-presidente, o PT deve transformar Curitiba em seu centro político. Na segunda (9), o partido fará a próxima reunião de sua executiva na capital paranaense. Os dirigentes petistas estão convocando a militância para fazer vigília permanente na cidade.
Rebelde com causa A direção do partido adotará o discurso de que Lula é um preso político. “Não vamos sair de Curitiba. Nossa prioridade é a libertação dele”, diz a senadora Gleisi Hoffmann (PR), presidente da sigla.
Tipo exportação Na sexta (6), Lula recebeu ligações de vários líderes estrangeiros, entre eles os ex-presidentes argentinos Cristina Kirchner e Eduardo Duhalde e o ex-presidente do Equador Rafael Correa. O ex-primeiro-ministro italiano Romano Prodi também fez contato.
Tipo exportação 2 O ex-presidente do Chile Ricardo Lagos ligou para o ex-chanceler Celso Amorim.
Morde… Pesquisa qualitativa encomendada por tucanos paulistas mostra que será difícil para o partido acertar o tom do discurso sobre a prisão de Lula. Segundo o estudo, a população considera a corrupção um problema geral do sistema político, mas vê o petista como o único a ser punido pelos desvios.
… e assopra Questionados sobre a prisão do ex-presidente, participantes do estudo perguntaram: “Por que só ele?” O levantamento chegou às mãos de, entre outros, João Doria, candidato do PSDB ao governo paulista.
Quase esquerda Na sexta, quando Geraldo Alckmin (PSDB) renunciou ao mandato de governador e entregou o estado ao vice, Márcio França (PSB), militantes em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC fizeram graça. Ao menos, o socialista não teria coragem de mandar o batalhão de choque para tirá-los de lá, disseram.
Cadeira cativa Os presidentes dos diretórios estaduais do PP, Guilherme Mussi, e do DEM, Rodrigo Garcia, prestigiaram a posse de França. Como as duas siglas têm cargos no governo paulista, auxiliares do pessebista viram no gesto um esforço para tentar preservá-los.
Digitais Homem de confiança de Alckmin, o secretário de Governo, Saulo de Castro, permanecerá no primeiro escalão da gestão de França. Há a possibilidade de ele mudar de pasta, mas não de sair. O secretariado do novo governador começará a ser anunciado esta semana.
TIROTEIO
O reinado dos intocáveis no Brasil desabou. A Lava Jato não discrimina a cor da gravata, muito menos o tipo do colarinho partidário.
DO SENADOR RONALDO CAIADO (DEM-GO), sobre PT e PSDB estarem na mira da operação, com o cerco a Lula e a prisão Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto.
CONTRAPONTO
Muito amor à camisa
Agora ex-prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB) aproveitou a cerimônia de transmissão de cargo para Bruno Covas, na sexta (6), para se despedir da equipe.
Em reunião fechada com os secretários municipais, mostrou um vídeo de oito minutos com seu balanço da gestão e distribuiu moedas como lembrancinhas.
Ao final, Covas anunciou que haveria um agradecimento a Doria e escolheu o titular da pasta de Esportes, Jorge Damião, para falar em nome dos demais.
Pego de surpresa, o secretário confessou:
— Só fiquei nervoso desse jeito na vida no domingo passado, e foi pelo Corinthians! Decisão de campeonato!