Criticada no MPF, indicação de Aras agrada Congresso e Judiciário; subprocurador traça romaria no Senado

Questão de ponto de vista Muito criticada por setores do Ministério Público Federal e pelos lavajatistas que compõem a base de Jair Bolsonaro, a indicação de Augusto Aras para a Procuradoria-Geral da República foi bem digerida pelas cúpulas do Congresso e do Judiciário. Nomes que torciam pela recondução de Raquel Dodge avaliaram que Aras está longe de ser, para eles, uma escolha ruim. Aliados do subprocurador já começam a traçar a rota da romaria pelo Senado: ele irá aos 81 gabinetes pedir votos.

Emoções vivi Augusto Aras acompanhou os últimos lances de sua indicação em casa, ao lado de cinco pessoas. Demonstrou mais alívio do que euforia ao receber o telefonema que sacramentou sua escolha. Ele manteve contato com o presidente por dias, mas só nesta quinta (5) teve certeza de que havia vencido.

Às avessas A ligação que confirmou o nome de Aras fugiu do protocolo. Bolsonaro pediu o telefone do subprocurador a um amigo de ambos, o ex-deputado Alberto Fraga, na quarta (4) e tentou contato nesta quinta (5), mas não conseguiu falar. Fraga, então, passou o número do presidente para Aras e o próprio entrou em contato com ele.

Dias de luta O caminho até o anúncio foi acidentado. Aras despontou para o posto sem participar da eleição interna do MPF, o que irritou a categoria e a Lava Jato. Também foi bombardeado por bolsonaristas por ter tido boa relação com nomes da esquerda anos atrás. Nesta quinta (5), dizem amigos, parecia exausto.

Com cerimônia A ordem dos aliados de Aras foi de discrição. O subprocurador quer passar mensagem de respeito ao rito e ao Senado, que precisa sacramentar a escolha de Bolsonaro em votação.

A bola é sua Entre os integrantes do MPF que apoiam a lista tríplice o clima era realmente de funeral. Muitos nem sequer conseguiam dimensionar a reação da categoria. Procuradores dizem que quem vai ditar o volume da reação interna é o próprio Aras.

A bola é sua 2 Se ele mantiver o tom crítico ao corporativismo que adotou na campanha e ainda ensaiar nomeações discricionárias para cargos hoje escolhidos após disputa interna, a tendência é a temperatura subir.

Não curti O Planalto monitorou a reação da internet ao nome de Aras –e se surpreendeu com o volume das queixas.

Não passarão Dos 19 artigos vetados por Bolsonaro na lei que pune o abuso de autoridade, três, em especial, incomodaram o Congresso: o  9º, o 30º e o 38º. O de número 43, que tira prerrogativas da advocacia, também não fez sucesso.

Cai tudo A amplitude do gesto do presidente foi vista como quebra de acordo. A ideia de líderes de partidos na Câmara é trabalhar pela derrubada global dos vetos, e não apenas dos itens que desagradaram o Legislativo. Bolsonaro havia sinalizado que faria concessões à polícia, mas fez também ao Ministério Público.

Em mãos O ex-presidente da ABDI, Guto Ferreira, afirma que entregará evidências de suas acusações contra o secretário especial do Ministério da Economia, Carlos da Costa, ao Ministério Público na segunda (9). Ferreira diz ter reunido, por meses, mensagens que mostrariam que o secretário tentou usar indevidamente recursos do Sistema S.

RSVP “As criaturas do pântano político que o ministro disse que vai perseguir estão mais perto do que ele imagina”, afirma Ferreira, usando expressão criada pelo próprio Guedes para criticar os governos do PT.

Dívida histórica O relator da reforma da Previdência no Senado, Tasso Jereissati (PSDB-CE), decidiu retirar do texto proposta que previa cobrança de contribuição previdenciária de anistiados políticos. Os aliados do presidente chamam pejorativamente as indenizações de “bolsa-ditadura”.

Dívida histórica 2 A cobrança de contribuição dos anistiados chegou ao Congresso pela equipe econômica do governo, mas Tasso considerou que se tratava de retaliação. Além disso, avaliou, isso poderia suscitar questionamentos jurídicos.

Dívida histórica 3 “Nesta reforma, discutimos o futuro, não o passado”, escreveu o senador em seu relatório.


TIROTEIO

A aparente predileção dele por ofender familiares dos que resistiram à ditadura está unindo os democratas do continente

Do presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, após o ataque de Bolsonaro à ex-presidente do Chile, cujo pai foi assassinado no regime Pinochet