Projeto que pune abuso de autoridade é desafio político e pode rachar base de Bolsonaro; PSL se divide
O beijo na cruz A aprovação do projeto que pune o abuso de autoridade lançou desafio político considerável para Jair Bolsonaro. O presidente, cada vez mais pragmático no trato com o Congresso, terá de optar entre desagradar com um veto amplo a maioria do Legislativo –onde tramitam propostas de seu interesse, inclusive a indicação do filho para embaixada nos EUA– ou parlamentares sob o risco de precipitar o choque entre dois pilares de sua base: o bolsonarismo raiz e o lavajatista.
Experimento social O grupo de WhatsApp do PSL virou um laboratório do dilema que pode se impor à base de Bolsonaro. A ala que quer privilegiar projetos da área econômica e da pauta de costumes e segurança pública –três fontes de alimentação do bolsonarismo– prega visão estratégica e sangue frio.
Estica… Houve debate acalorado. Enquanto uma deputada pedia calma e confiança na “sensatez do nosso presidente para deliberar sobre o veto”, integrantes de outra hoste pregavam ir ao STF contra a votação na Câmara. “O que ele teria feito em nosso lugar?”, indagou um desses quadros.
…e puxa O próprio parlamentar respondeu à pergunta. Disse que Bolsonaro “certamente teria votado contra, se rebelado”, e depois chamou o acordo que viabilizou a aprovação do projeto de “ordem suicida”.
O mundo é um moinho A ala do PSL que prega concessões em nome da governabilidade trata a que pega em armas por Sergio Moro (Justiça) e pela Lava Jato como “ingênua”.
Tratado de Tordesilhas Caso Bolsonaro vete mais do que o trecho relativo à atividade de policiais, presidentes de siglas de centro e centro-direita articulam resposta imediata. A ideia é derrubar a ordem do Planalto no mesmo dia –e por inteiro.
Senhor do tempo O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), foi aconselhado a liquidar a análise da indicação de Eduardo Bolsonaro à embaixada em Washington na próxima semana, quando ela deve chegar à Casa. Há um grupo, porém, que quer esperar sinais do Planalto sobre o abuso de autoridade.
Devagar com o andor O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), é pressionado a pautar projeto que enquadra como nepotismo a indicação de parentes do presidente para embaixadas ou ministérios. Ele tem pedido calma.
Corpo… Apesar de o presidente ter dito na manhã desta quinta (15) que o secretário especial da Receita, Marcos Cintra, “por enquanto está muito bem”, cresceu no órgão e na equipe econômica a percepção de que haverá mudanças no fisco –e de que ela será ampla.
…e cabeça O Planalto já teria deixado claro que há insatisfação com o secretário-adjunto da Receita, João Paulo Fachada, e com o superintendente do órgão no Rio –a queda dele é dada como certa. A situação de Fachada é ainda mais instável do que a de Cintra, que não vive bom momento.
Cala-te boca Teria nascido na cúpula da Receita, em Brasília, a sugestão de transformar o órgão em uma espécie de autarquia, independente do Ministério da Economia.
Cala-te boca 2 Os subsecretários da Receita teriam confidenciado a colegas que a ideia era reverter a perda de relevância do fisco no atual desenho da Economia –a corporação foi rebaixada ao terceiro escalão. A avaliação, porém, é a de que transformá-la em autarquia no atual contexto vai enfraquecer mais o órgão.
Devassa? Ao contrário do que sugere o presidente Jair Bolsonaro, não haveria procedimento de fiscalização da Receita contra seu irmão, Renato Bolsonaro. Segundo relatos, o empresário, morador do interior paulista, parcelou o IR e foi comunicado de que uma das parcelas, de pouco mais de R$ 1.000, ficou em aberto.
Padrão O Painel procurou a assessoria do presidente para saber se ele estava considerando a cobrança do imposto devido como “devassa”, mas o Planalto informou que ele não se manifestaria.
Zero Questionados se há algum arremedo de projeto para conter, expor ou condenar a escalada da violência policial no Rio, deputados do estado são diretos: não há nem cheiro de resposta institucional.
TIROTEIO
A retirada de radares móveis trará mais mortes e histórias tristes e pressionará estados e municípios com despesas na saúde
De Jonas Donizette (PSB-SP), presidente da Frente Nacional de Prefeitos, após a ordem de Bolsonaro de suspender equipamentos