Ação de hacker abre teses sobre agente duplo; políticos duvidam de nova invasão
Cavalo de Troia? Mensagens enviadas por um autointitulado hacker ao grupo do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) causaram forte impressão nos destinatários. Pelos termos usados e pelo material apresentado –ele anexou um áudio atribuído a integrantes da força-tarefa de Curitiba–, membros do CNMP suspeitam não se tratar de um amador. O discurso e o modo como exibiu conhecer as funções da Procuradoria levantaram a tese de que o ciberpirata pode integrar ou ter integrado o quadro do MP.
Salve-se quem puder Assim que a presença do tal hacker no grupo de integrantes do CNMP foi detectada, conselheiros do órgão dispararam mensagens a pessoas próximas recomendando redobrar os cuidados com brechas na segurança de aplicativos utilizando todos os mecanismos disponíveis de verificação de identidade no acesso.
Em boa hora Mas o fato de o suposto invasor ter feito questão de anunciar sua presença também despertou incredulidade entre políticos e magistrados. A aparição coincidiu com uma guinada no discurso de Sergio Moro (Justiça) e da Lava Jato, que passaram a citar o risco de adulteração de diálogos –cujo conteúdo, antes, não haviam negado.
Afasta esse cálice A crise da Lava Jato começa a gerar críticas enfáticas de nomes relevantes no Ministério Público Federal. O ex-procurador-geral Claudio Fonteles produziu duro artigo, ao lado de outros três procuradores aposentados e um ex-juiz do TRF-4.
Afasta esse cálice 2 O texto elenca as mensagens entre Moro e Deltan Dallagnol reveladas pelo The Intercept Brasil e diz que a conduta de ambos fere a Constituição. “Os personagens dos diálogos acima, na dimensão dos fatos postos, não representam a magistratura nem o MPF”, dizem os signatários do artigo.
Sem misericórdia Os ex-procuradores e o juiz aposentado escrevem ainda que “fatos gravíssimos (…) não podem ser escondidos; colocados sob o manto do silêncio”. “Os diálogos existiram. O teor das conversas não foi negado. (…) Não se pode tergiversar com princípios constitucionais!”.
Menu degustação A divulgação de novos trechos de diálogos entre procuradores e Moro foi um ponto alto do jantar de comemoração do aniversário do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Os convidados, parte da elite política, incorporaram a leitura dos textos ao convescote.
Mata no peito O diálogo obtido pelo The Intercept com citação ao ministro Luiz Fux, do STF, pode ampliar o desconforto na corte. Moro teria dito a Dallagnol que “In Fux we trust [No Fux nós confiamos]”. A avaliação é a de que isso amplia a sensação de uma dobradinha juiz/procurador.
Quero flores em vida A exclusão de estados e municípios do texto principal da reforma da Previdência tem dois intuitos: 1) garantir que governadores se engajem até a votação da matéria no plenário, virando votos da oposição, e 2) deixar claro que foram os líderes da Câmara que conseguiram fazer o governo desistir das medidas mais polêmicas.
Espaço para todos Na avaliação de um governador da oposição, não há jogo perdido e os entusiastas da reforma sabem que precisarão de apoio. Em sua conta, os estados poderiam virar 60 votos favoráveis, “os que faltarão no plenário”, prevê. Já sem eles, a resistência crescerá, pois engrossarão o time do contra.
Contabilidade criativa Após as alterações desta quarta (12), parlamentares arriscavam valores para a economia gerada com a reforma. Do R$ 1,2 trilhão previsto por Paulo Guedes, governistas falavam em quase R$ 900 bilhões. Já líderes do chamado centrão colocavam para baixo, em R$ 700 bi, citando concessões extras nas regras de transição.
Está dominado Guedes e companhia previam mais, acima de R$ 800 bilhões, após acompanharem o discurso do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e de líderes partidários pela TV.
Sem freio Líderes de esquerda e sindicalistas têm a expectativa de uma greve geral sem precedentes para a próxima sexta (14). Estimam que a adesão vai superar a de 28 de abril de 2017, contra as reformas do governo Temer. A ideia é forçar a abertura de uma negociação com Rodrigo Maia.
Combustível A polêmica em torno de Moro deve ser explorada nas manifestações.
O que ele uniu Ausentes da última passeata pró-governo, Vem Pra Rua e MBL agora estão juntos no chamado a atos a favor de Moro e da reforma, dia 30. A crise da Lava Jato estimulou o reagrupamento.
TIROTEIO
O governo tem é que prover segurança à sociedade, não armar cada cidadão para que ele se defenda por conta própria
Da senadora Rose de Freitas (Pode-ES), sobre a rejeição do decreto pró-armas de Bolsonaro na Comissão de Constituição e Justiça