Corregedor instaura processo contra Dallagnol por interferência na eleição do Senado
O corregedor nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel, instaurou processo administrativo disciplinar contra Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato de Curitiba. Ele entendeu que o procurador atuou política e partidariamente, no início deste ano, ao fazer campanha contra a eleição de Renan Calheiros (MDB-AL) e pelo voto aberto na disputa pela presidência do Senado.
A decisão de Rochadel, desta segunda (10), será submetida ao plenário do Conselho Nacional do Ministério Público. O voto do corregedor é duríssimo e emerge em meio às revelações do site The Intercept Brasil sobre bastidores da Lava Jato.
Rochadel afirma que Deltan “buscou, fora de suas atribuições legais, interferir na eleição para a presidência do Senado Federal”. A atuação do procurador foi questionada por Renan Calheiros. Dallagnol fez uma série de postagens em seu Twitter durante a disputa e essas manifestações foram analisadas por Rochadel.
“As publicações tratadas, portanto, revelam-se indevidas no âmbito disciplinar, já que violam a dignidade do cargo e o decoro que deve guardar o membro em atenção ao prestígio do Ministério Público e da Justiça”, escreveu o corregedor do CNMP.
“Referidas publicações, embora mascaradas através do alegado exercício da liberdade de expressão, indevidamente fazem campanha política contra a candidatura do excelentíssimo reclamante [Renan] à presidência do Senado Federal, descredenciando-o perante a opinião pública”, afirmou Rochadel.
“A violação à dignidade do cargo e ao decoro é evidente, já que o excelentíssimo membro reclamado [Deltan] não está autorizado a fazer campanha política para eleição de cargo de outro poder da República contra determinado candidato, em matéria alheia à sua atribuição, tampouco falar em nome de todos os Membros do Ministério Público do Brasil”, concluiu.
Em uma das postagens, Dallagnol diz que “se Renan for presidente do Senado, dificilmente veremos reforma contra corrupção aprovada. Tem contra si várias investigações por corrupção e lavagem de dinheiro. Muitos senadores podem votar nele escondido, mas não terão coragem de votar na luz do dia”.
Em outras postagem, segundo a peça do CNMP a qual o Painel teve acesso, Deltan diz que “a derrota de Renan Calheiros na eleição representa, ainda, a rejeição pela sociedade e pelo Parlamento do exercício da presidência do Senado por alguém investigado pela prática de corrupção na Lava Jato”.
Ao CNMP, o procurador negou ter atuado politicamente e disse ter citado Renan apenas por ele ser alvo de investigações do Ministério Público. Nesta segunda, antes da publicação da decisão do corregedor nacional, Renan comentou as mensagens reveladas pelo The Intercept e pregou a aprovação do projeto que pune o abuso de autoridade.