Reação a ameaça mostra que Guedes não é insubstituível; Congresso vê ministro ‘vaidoso’
Narciso e o espelho d’água Não causou repique nem no mercado nem na cúpula da política a ameaça de Paulo Guedes (Economia) de deixar a equipe de Jair Bolsonaro caso a reforma da Previdência fracasse. Gestores de investimentos e deputados apontaram o mesmo motivo para a falta de reação: ninguém é insubstituível. Operadores dizem estar mais preocupados com a entrega efetiva do que com o nome que levará a proposta adiante. No Congresso, a fala foi lida como um recado ao Planalto, mas eivado de vaidade.
Efeito surpresa? O ministro disse em entrevista à revista Veja que, se a reforma for muito reduzida pelo Parlamento, deixará o governo. Gestores lembraram que essa não é primeira vez que Guedes sinaliza desapego ao cargo —e que ninguém acredita que ele vá sair agora.
Quem é que manda Um desses operadores lembra que mais relevante do que a permanência do ministro é o comprometimento de Bolsonaro com as novas regras de aposentadoria.
Valeu a intenção Deputados que vinham pedindo uma intervenção de Guedes na articulação política para criar um ambiente de cessar-fogo e fazer deslanchar a reforma acham que ele errou na forma do recado. Ao colocar pressão usando o próprio peso político, dizem, deixou claro que pode estar se sentindo maior do que a causa que representa.
Fica a dica O presidente da comissão que analisa a reforma, Marcelo Ramos (PR-AM), resumiu a impressão do Congresso: “No Brasil, as pessoas têm mania de se colocarem acima das instituições”.
Livre, leve e solto Alexandre Frota (SP), deputado do PSL que se tornou uma espécie de guardião da reforma dentro do partido do presidente, saiu em defesa de Guedes. Disse que o ministro é “um cara sincero, que acredita na proposta que apresentou”. “Se ele ficar insatisfeito com o resultado, tem o direito de sair.”
A garantia “Paulo Guedes, Sergio Moro e Santos Cruz são o tripé do governo. Bolsonaro perderia muito sem eles”, diz Frota.
Fale com ele Com os líderes do PSL em choque, Frota tem ampliado a interlocução com nomes de partidos hoje descontentes com sua bancada, como Arthur Lira (PP-AL) e Elmar Nascimento (DEM-BA).
Deixa disso Depois de uma semana marcada pelo embate no Congresso, integrantes de diferentes alas do PSL passaram a pregar que os colegas diminuam a artilharia virtual contra parlamentares em nome da reforma.
Jogo bruto Em grupos de simpatizantes do partido no Nordeste, por exemplo, fotografia de um dos líderes do centrão circula com a inscrição “câncer do Congresso”.
#Tendência Um analista que se debruçou sobre os dados da nova pesquisa da XP Investimentos sobre a avaliação do governo Bolsonaro chamou atenção para um dado: desde janeiro, o percentual de eleitores que responsabiliza o presidente pela atual situação da economia não para de subir. Passou de 3% para 10%.
Última chamada Governadores reunidos nesta sexta (24), no Recife, relataram ao líder do governo no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE), mudanças no texto da MP do Saneamento das quais não abrem mão. Eles defendem prazo de quatro anos para a revisão de contratos em andamento e a possibilidade de uma renovação sem licitação.
Piscou Na reunião com os governadores, Bolsonaro sinalizou concordar que estados acessem o Fundo Constitucional do Nordeste para investimentos em obras.
Visita à Folha João Doria, governador de São Paulo, visitou a Folha nesta sexta (24), onde foi recebido em almoço, a convite do jornal. Estava acompanhado de Rodrigo Garcia, vice-governador e secretário de Governo; Henrique Meirelles, secretário da Fazenda e Planejamento; Cleber Mata, secretário de Comunicação; Leticia Bragaglia, coordenadora de imprensa; Bruna Fasano, assessora de imprensa do governador; e Carla Simões, assessora de imprensa da Secretaria da Fazenda.
TIROTEIO
A bancada da selfie é performática, mas performance resolve nas eleições. No plenário o que funciona é articulação
Do senador Otto Alencar (PSD-BA), sobre os parlamentares do PSL que fazem questão de fazer transmissões ao vivo durante votações