Crise no Congresso alarma equipe econômica, que prevê ‘luta política braba’
Ajuda quem não atrapalha Os constantes embates entre o governo e o Congresso tornaram-se a principal preocupação da equipe econômica. A guerra retórica que encerrou a primeira etapa da votação da medida provisória que reorganizou a Esplanada, na quarta (22), fez aliados de Paulo Guedes (Economia) classificarem a atuação do PSL como “corrosiva”, e a debilidade da articulação como obstáculo à agenda do Planalto. O tom é de chamado à realidade: “O governo precisa querer governar”, disse um membro do time.
Passou da conta O desalento tomou conta da equipe econômica após a bronca dada pelo líder do DEM, Elmar Nascimento (BA), na bancada do PSL. “Aquilo foi o auge. Agora vai ser luta política da braba”, disse um integrante do grupo montado por Guedes.
Vá só Líderes de partidos de centro e centro-direita encerraram a votação da medida provisória, nesta quinta (23), avisando que, mantida a atitude atual, vão cruzar os braços para que o governo veja se, de fato, tem votos para operar.
Pessimistas O clima em Brasília foi agravado nos últimos dias pela avaliação de que a equipe de Paulo Guedes também está perdida, sem conseguir implementar a retomada da economia. Tornou-se corrente a avaliação de que a reforma da Previdência não será suficiente para a recuperação sem um plano que ataque o desemprego e o endividamento.
Telefone vermelho O cenário de ingovernabilidade tornou-se alvo de debate nas duas Casas do Legislativo e também no Supremo. Nos últimos dias, ministros e parlamentares intensificaram os contatos.
Teoria do caos Em encontro na quarta (22), na residência de Davi Alcolumbre (DEM-AP), 15 senadores de diversos partidos, da direita à esquerda, debateram as opções à mesa. A reunião, revelada pelo Estado de S. Paulo, partiu da premissa de que o país ruma ao impasse.
Sem saída Não houve definição de rumo, mas diagnósticos: 1) o vice, Hamilton Mourão, não conquistou a confiança do Congresso, 2) Bolsonaro não é do tipo que combina com renúncia, 3) a crise é intermitente e seguirá aos soluços; 4) os atos deste domingo (26), qualquer que seja o resultado, tendem a piorar o ambiente.
Grato No dia seguinte à mobilização pró-Bolsonaro, o governo vai contemplar categoria que atua para inflar os atos, os caminhoneiros. Na segunda (27), o documento eletrônico que amplia o controle do piso do frete entra em teste no ES.
Estica e puxa Parlamentares tentam convencer a equipe econômica a usar o Fundo de Participação dos Estados como principal critério de divisão das verbas da exploração do petróleo, o chamado Fundo Social. Querem que dois terços dos recursos sejam partilhados dessa maneira.
Cobertor curto A repartição foi prometida aos governadores por Paulo Guedes, mas o critério ainda está em debate. A equipe econômica quer usar parte da verba para ressarcir os estados exportadores atendidos pela Lei Kandir.
Cobertor curto 2 Parlamentares lembraram o governo de que o FPE atende prioritariamente Norte, Nordeste e Centro-Oeste –regiões que podem render votos no Congresso. A expectativa é que sejam distribuídos R$ 6 bilhões.
Atentai A medida provisória 871, que fecha o cerco a fraudes no INSS, está 100% fora do radar dos integrantes do PSL. Aprovada, a proposta ajudaria a manter intacta a aposentadoria rural, mas líderes de partidos de centro avisam que o governo vai enfrentar dificuldades na votação da matéria.
Peso pesado Rodrigo Maia (DEM-RJ) bateu o martelo. Avisou que Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) vai relatar a reforma tributária na comissão especial.
Visita à Folha O apresentador Luciano Huck visitou a Folha nesta quinta (23), onde foi recebido em almoço, a convite do jornal. Estava acompanhado de Paulo Hartung, ex-governador do Espírito Santo, e Leandro Machado, cofundador do movimento Agora.
TIROTEIO
A história ensina: manifestação de rua, mesmo a favor, acaba mais cedo ou mais tarde tendo como alvo o próprio governo
Do deputado Aécio Neves (PSDB-MG), sobre os atos convocados por aliados do presidente Jair Bolsonaro em defesa da atual gestão