Decreto pró-armas expõe fissura no núcleo bolsonarista e derrota política de Moro
Nem gregos nem troianos O primeiro grande ato de Jair Bolsonaro dividiu o núcleo duro de seus apoiadores, reforçou críticas de setores que fazem oposição a ele e marcou a estreia –com derrota– de Sergio Moro (Justiça) contra o núcleo político do governo na queda de braço pela persuasão do presidente. O alarde de entidades que militam pelo desarmamento contrastou fortemente com a decepção dos entusiastas da revogação do estatuto. Estes disseram que o decreto pró-posse de armas ficou abaixo da expectativa.
Boca no trombone Um dos maiores propagandistas da posse e do porte de armas, o advogado Bene Barbosa fez questão de registrar nas redes que havia passado o dia “dando entrevistas”. Ele foi o porta-voz da tese de que Bolsonaro frustrou defensores de mudanças no Estatuto do Desarmamento.
Ouvidos moucos Ao Painel, Bene disse que “o sentimento geral é de decepção”. “A promessa era maior e ficou algo muito raso”, afirmou. Ele, que já havia reclamado de falta de interlocução com o governo Bolsonaro, reiterou a crítica de que faltou diálogo.
Ouvidos moucos 2 “Nós tínhamos pessoas que conhecem essa legislação profundamente. Mas nenhum governo é obrigado a ouvir ninguém”, disse Barbosa. Ele já havia se estranhado com Carlos Bolsonaro na internet. Nesta terça (15), suas entrevistas a canais do YouTube e blogs conservadores foram fartamente replicadas em sites de direita.
O filho é teu Integrantes da bancada da bala pressionaram a Casa Civil a inserir no decreto o dispositivo que garantiu que todos os estados do país se enquadrarão nos critérios de “efetiva necessidade” para a posse de armas. Moro pensou a norma de outra forma. Auxiliares do ministro fizeram questão de repassar a paternidade do texto ao Planalto.
Passou da conta Ex-juiz, o governador Flávio Dino (PC do B-MA) vê no dispositivo que alargou os critérios de efetiva necessidade da posse de armas o ponto do decreto mais suscetível à revisão jurídica. Ele entende que a norma subverteu o espírito do Estatuto do Desarmamento.
Em vão “Da forma como ficou, todos os requisitos elencados pela lei e mantidos pelo decreto se tornam inúteis”, diz Dino.
Casa de ferreiro… O futuro líder do governo Bolsonaro na Câmara, deputado Major Vitor Hugo (PSL-GO), foi um crítico da reforma da Previdência de Michel Temer. Em março do ano passado, ele defendeu que o projeto do emedebista deveria ficar “parado”. A equipe econômica do atual presidente já disse que quer aproveitar o texto do antecessor.
… espeto de pau Procurado, o deputado defendeu que “peculiaridades” da carreira militar devem ser levadas em conta na reforma, mas diz que, apesar de ter uma posição pessoal, vai, como líder, “defender o entendimento que o governo apresentar formalmente”.
Pá de cal A indicação do PC do B de que mesmo fora do bloco formado pelo PSL vai apoiar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Câmara levou aliados do democrata a decretarem, já nesta terça-feira (15), a morte da articulação oposicionista encabeçada por Arthur Lira (PP-AL).
Sem velório de véspera Lira, porém, mantém a busca por apoio. A quem perguntou se havia desanimado com a fragmentação da oposição e os sinais de que não conseguirá ter a esquerda inteira em seu bloco, disse: “Imagine. Sou homem de luta. Só largo o bicho na última hora”.
Sem trégua O PC do B vai trabalhar junto com o PDT para tirar o PSB do arco de aliados de Lira.
Mínimos detalhes O governador Renato Casagrande (PSB-ES) pôs fim a uma picuinha que se arrastou pela gestão de seu antecessor, Paulo Hartung. Prometeu ao prefeito de Vitória, Luciano Rezende (PPS), devolver o desfile de 7 de setembro para a capital.
Mínimos detalhes 2 Hartung havia tornado o ato itinerante.
TIROTEIO
Bandido não participa de campanha do desarmamento. Mais vale a arma na mão do que a família ao telefone para relatar crimes
Do deputado Alberto Fraga (DEM-DF), da bancada da bala, aos críticos do decreto de Bolsonaro que facilita a posse de armas no país