Fiel ao seu estilo, Temer citou poema em que celebra o recuo ao rejeitar indulto

Uma vida em 11 linhas O processo decisório que levou Michel Temer a cravar que não concederia indulto, nos estertores de sua gestão, espelhou a mecânica de todo o mandato. Após reuniões com especialistas e aliados, avisou que se isolaria para chegar ao veredito. Neste domingo (30), ao anunciar que não haveria benefício, citou um de seus poemas, o “Outra Vez”, no qual celebra o recuo. “Faço./ Refaço./ Penso./ Repenso./ Vejo./ Revejo./ Considero./ Reconsidero./ Que desastre seria/ Se não houvesse/ O RE”.

Meu limite Temer, que se tornará o primeiro presidente desde a redemocratização a não editar o decreto de indulto natalino, citou o verso final de seu poema ao contar a decisão para os auxiliares. Disse que não se sentiria bem em ditar uma norma cuja consequência será administrada pelo próximo governo.

Rir é o remédio Nas últimas semanas, Temer deu ordem para que adiassem a homologação de licitações e até a contratação de pesquisas de opinião sobre sua administração. O fim da gestão amenizou tanto o clima no Palácio do Planalto que um de seus assessores chegou a brincar: “Já sabemos que somos impopulares. Melhor poupar dinheiro!”.

Navegar é preciso Após passar a faixa para Jair Bolsonaro (PSL), Temer deixará o Planalto rumo à base aérea, em Brasília. Haverá um pequeno convescote para os aliados mais chegados. Depois, o já ex-presidente embarcará para São Paulo.

Primeira batalha Ex-parlamentares que vão atuar na articulação política do próximo governo dentro da Casa Civil dizem que o primeiro desafio de Bolsonaro será aprovar a medida provisória que cria a nova estrutura ministerial, redefinindo o número de pastas e suas funções.

Vem que tem Esse grupo já espera uma reação forte da oposição contra a MP e, ao falar sobre essa expectativa, revela o que é considerado o núcleo duro da resistência ao presidente eleito no Congresso.

Vem que tem 2 Os aliados de Bolsonaro calculam que a oposição ao novo governo na Câmara pode chegar a até 157 deputados. Desses, 70 parlamentares estariam no que tem sido chamado de “oposição ferrenha”, composta por PT, PC do B e PSOL.

Vai ter luta A pedido da direção do PT, a equipe de técnicos que assessora o partido no Congresso está elaborando um estudo para identificar quais seriam os limites de um decreto presidencial que almejasse facilitar a posse de armas, como promete Jair Bolsonaro.

Vai ter luta 2 A análise inicial da assessoria diz que há margem para que os petistas apresentem um projeto de decreto legislativo que tente sustar os efeitos de medida editada pelo presidente eleito.

Em branco e preto O presidente não teria poder, dizem os técnicos do PT, para alterar o Estatuto do Desarmamento com uma canetada, mas haveria brecha na legislação para que ele faça, por exemplo, mudanças nos requisitos exigidos para o registro e a posse de armamento.

Fronteira Pela interpretação dos técnicos da oposição, Bolsonaro teria poder para mexer na forma e na periodicidade das avaliações de capacidade técnica e aptidão psicológica para a posse de armas, mas não poderia afastar a necessidade desses requisitos.

Peixe no anzol Integrantes da atual Secretaria da Pesca e empresários do setor veem com desconfiança a indicação de Jorge Seif Júnior para a chefia da pasta na próxima gestão. Ele é filho de Jorge Seif, dono da empresa JS Pescados, que opera navios industriais.

Homem ao mar Para dirigentes da secretaria, a nomeação de Seif Júnior poderia gerar conflito de interesse. Ele tem uma embarcação em seu nome que está em fase final de construção e com licença prévia para funcionamento.

Pendência A autorização definitiva para a embarcação ainda terá de ser concedida —provavelmente sob a gestão dele.


TIROTEIO

Temer encerra o mandato rejeitado, mas emplaca seus ministros nas equipes de Doria e Bolsonaro. Onde está a renovação?

De Jilmar Tatto, vice-presidente do PT de São Paulo, sobre os quadros do atual governo que permanecerão na política em 2019