No auge da crise, Temer se sentiu só e externou angústia a aliados

O presidente em seu labirinto Acostumado a racionalizar crises ao limite, Michel Temer deu-se o direito de externar tristeza e angústia a aliados próximos nos primeiros dias desta semana, quando havia o receio de que seu governo sucumbisse ao levante dos caminhoneiros. Sem suporte dos chefes do Legislativo e do Supremo, e com os governadores concentrados em resolver os próprios problemas, viu-se contra a parede e isolado. Em desabafos, chegou a indagar se mais ninguém percebia que o momento requeria união.

Com juros A deterioração da influência do emedebista no Congresso –reflexo do uso do capital político para barrar as duas denúncias de que foi alvo– cobrou um preço alto. Temer chegou a recorrer a falas emocionais, evocando o risco de a economia e a democracia ruírem com a paralisação.

Como rocha Segundo auxiliares, no auge da crise, o presidente contou especialmente com três escudeiros: Eliseu Padilha (Casa Civil), Raul Jungmann (Segurança) e Sergio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).

Cerco fechado O governo foi pressionado em várias frentes. Na manhã de terça (29), a advogada-geral da União, Grace Mendonça, contou que havia sido cobrada pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.

Ordem dada Grace relatou ao Planalto que Moraes solicitara a apresentação dos resultados das ações desencadeadas pela liminar que determinou a desobstrução das rodovias.

Sufoco O ministro do STF havia dado prazo de 24 horas para o governo entregar algum material, mas a Polícia Rodoviária Federal não havia nem sequer enviado os dados brutos à AGU. “Levo ainda hoje, pessoalmente, ao seu gabinete”, disse Jungmann a Grace. À noite, a primeira leva de notificações foi enviada ao Supremo.

De grão em grão A AGU enviou nova lista de empresas que infringiram a ordem do STF na quarta (30). Há projeção que apontam que, ao final de todo o processo, as sanções possam somar R$ 1 bilhão.

Vá na frente Um gesto do senador Ronaldo Caiado (DEM-GO) espelha o isolamento de Temer. Convidado para o ato da Assembleia de Deus do qual o presidente participou nesta quinta (31), esperou o emedebista sair para aparecer.

Começa em casa O Criança Feliz, que tem a primeira-dama Marcela Temer como embaixadora, também entrou no corte de despesas que o governo fez para compensar a queda no preço do diesel. O programa perdeu R$ 3,9 milhões de seu orçamento.

Não se bicam A aparição de João Doria, pré-candidado do PSDB ao governo de SP, ao lado de Flávio Rocha, o presidenciável do PRB, nesta quinta (31), na Marcha para Jesus, provocou uma troca de farpas entre quadros da legenda.

Ele pode? Um aliado de Geraldo Alckmin, o aspirante ao Planalto do PSDB, enviou fotos de Doria e Rocha no evento ao presidente da sigla em SP, Pedro Tobias (SP), com uma provocação: “Está certo isso? (…) Cabe expulsão?”. O texto ironizava as permanentes cobranças no tucanato de fidelidade ao palanque do ex-prefeito no estado.

Respiro Alckmin aproveitou o feriado para passar um dia em Pindamonhangaba (SP), sua cidade natal. No sábado, grava programas para a pré-campanha na internet.

Congestionado Henrique Meirelles, nome do MDB para o Planalto, foi aconselhado a, sempre que possível, marcar posição como alternativa aos extremos da direita e da esquerda. Ele vai intensificar as mensagens de comunicação para o MDB.

Morro acima Meirelles ainda precisa ser chancelado candidato na convenção do partido, em julho. A ordem é reforçar a tese de que ele é um outsider que pode dar certo e até limpar a imagem da sigla. Neste mês, vai visitar diversos diretórios estaduais.

Check in A equipe do emedebista programou visitas a sete estados: RS, MG, BA, PA, PE e SC.

 


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