Intervenção federal no Rio alavanca pauta conservadora no Congresso

Painel

Cruzada 2.0 A onda criada pela intervenção na segurança pública do Rio vai estimular o debate de pautas conservadoras no Congresso. Senadores da base querem usar a repercussão do decreto para retomar discussões sobre redução da maioridade penal em casos de crimes graves. Os parlamentares sabem que nenhuma emenda à Constituição pode ser aprovada durante a ação extremada do governo federal, mas ainda assim querem reavivar o assunto para capitalizar seu crescente apelo eleitoral.

#Tendência O apoio à redução da maioridade penal de 18 para 16 anos passou de 26%, em 2015, para 36%, em 2017, segundo pesquisa Datafolha de janeiro deste ano.

Dois pesos A repercussão da intervenção no eleitorado do Rio freou o ímpeto crítico dos parlamentares do Estado que estão na oposição. Eles admitem que não dá para ignorar que o mote do combate ao crime tem apelo.

Visão turva Na esquerda, há o temor de que o decreto de Michel Temer acabe reforçando o discurso do deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) de que os militares são solução para problemas sociais. Já na base do governo, a avaliação é a de que, se o plano der certo, o presidenciável vai perder espaço e o emedebista colherá louros.

Vim para confundir A equipe econômica do governo federal deu redação dúbia ao trecho que trata do financiamento da intervenção federal de propósito. Um artigo diz que os custos deverão ser cobertos pelo Rio. Outro, abre espaço para aporte da União. A dissonância é para evitar que outros Estados peçam auxílio semelhante.

Com ou sem farda? Antes de bater o martelo sobre o general Walter Souza Braga Netto –hoje responsável pelo Comando Militar do Leste e das tropas que já atuam no Rio–, cogitaram-se nomes de juristas e integrantes da reserva das Forças Armadas para assumir o posto de interventor.

Em boa hora Horas após o presidente Michel Temer anunciar a intervenção no Rio, o Planalto foi avisado de que a Justiça havia decretado a suspensão da nova leva de propagandas pela reforma da Previdência.

Nem aí Ninguém levantou uma sobrancelha. Como o decreto impede a votação de emendas à Constituição, o governo já ia tirar as peças do ar.

Libera geral O PT fará uma reunião no dia 23 para dar início às negociações para a eleição deste ano nos Estados. A direção definiu que os cinco governadores do partido terão total liberdade para fechar alianças.

Opostos se atraem No Ceará, por exemplo, a articulação é pela presença do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB), na chapa do governador Camilo Santana.

Pragmáticos Nas unidades que o PT não governa, a direção nacional vai querer avalizar os acordos. De toda forma, a sigla vai deixar claro que o objetivo é garantir o maior número de palanques para Lula –ou seu substituto– país afora, além de uma boa bancada de deputados.

Quem desdenha… Aliados do prefeito João Doria (PSDB-SP) passaram a se referir aos outros três pré-candidatos ao governo de São Paulo –Luiz Felipe d’Avila, José Aníbal e Floriano Pesaro– como “os três patetas”.

Oráculo Enquanto ainda estava mergulhado em dúvidas, Luciano Huck consultou Marina Silva duas vezes sobre a disputa presidencial.

Às claras O presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, diz que os integrantes do atual Conselho que têm articulado uma chapa de oposição a ele precisam renunciar aos seus cargos. Hoje, diz, as subseções da entidade no Estado estão “alinhadas com sua gestão” e com seu empenho na defesa da classe.


TIROTEIO

A única certeza sobre a intervenção na segurança do Rio é que ela já matou o governo Pezão e a reforma da Previdência.

DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre o impacto do ato extremo de Michel Temer na política local e na proposta que era prioridade do Planalto.


CONTRAPONTO

A repetição da história como farsa

Em 16 de janeiro deste ano, Geraldo Alckmin (PSDB-SP) concedeu entrevista ao apresentador José Luiz Datena, na Rádio Bandeirantes, para falar sobre sua proposta de criação do Ministério da Segurança Pública.

Antes de o programa entrar no ar, o governador lançou um de seus gracejos futebolísticos favoritos:

— Este é o ano do peixe! — disse, sobre o Santos, time para o qual torce.

— É… Sei… O senhor fala isso desde que veio aqui pela primeira vez e o peixe não ganha… — rebateu Datena.

— Bom, se bem que ele ganhou o Paulista… — ponderou, por fim, o apresentador.