Aliados de Temer vão usar prisão de Geddel para reforçar tese de que o Judiciário age politicamente

O bambu e a flecha A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima será usada por aliados de Michel Temer para inflar o discurso de que o Judiciário trava uma luta política para apear o presidente do poder. Para o Planalto, a detenção revela mais uma cena do enredo que situa Temer como o eixo central de um grupo criminoso. O encarceramento jogou um balde de água fria nos que achavam que, com a saída de Rodrigo Rocha Loures da cadeia, no sábado (1º), o governo poderia suspirar aliviado.

Pressão constante A prisão de Geddel teve forte impacto no Congresso. Ganhou corpo a avaliação de que, por mais que lute, o governo não terá sossego e será mantido sob tensão permanente — e em curva ascendente.

Não vai dar Com a base aliada cada vez mais encolhida e a oposição, por sua vez, inflamada, há entre líderes do Congresso a sensação de que a Comissão de Constituição e Justiça não conseguirá liquidar o debate sobre a denúncia contra o presidente em até cinco sessões, como manda o regimento.

A Geni da delação Determinado a acelerar a tramitação da denúncia de Janot, Temer entregará sua defesa à Câmara na quarta (5). A peça elaborada por seus advogados será acompanhada de pareceres contra o uso da gravação feita por Joesley Batista. Um deles é de Carlos Velloso, que foi ministro do STF.

Armas em punho Não faltaram críticas no governo e no Congresso aos termos usados por Rodrigo Janot em entrevista a participantes de um congresso de jornalismo, no sábado (1º). Na ocasião, Janot afirmou que, “enquanto houver bambu, lá vai flecha”, e enfatizou que usará o peso de sua caneta até o último dia na chefia da PGR.


Rir para não chorar Nos corredores do Planalto, a réplica se alastrou em forma de troça. Auxiliares do presidente afirmaram que, prestes a deixar o cargo, em setembro, o procurador-geral deu início a uma campanha para assumir a presidência da Fundação Nacional do Índio.

Fiz minha parte A defesa de Lúcio Funaro, personagem decisivo para a prisão de Geddel Vieira Lima, vai pedir a soltura do corretor assim que o STF retomar os trabalhos. A saída de Rodrigo Rocha Loures da cadeia, por decisão de Edson Fachin, será usada como argumento.

Beijo, tchau! Presidente da CSB (Central dos Sindicatos Brasileiros) e dirigente do PMDB em São Paulo, Antônio Neto decidiu se desligar da sigla. Formalizará o desembarque com duras críticas ao governo e às reformas.

Metralhadora O sindicalista pedirá o desligamento do partido em uma carta na qual diz que, “por interesses e conchavos impublicáveis, e até mesmo por sobrevivência indulgente”, o Planalto atua como “tropa de choque” de grandes grupos econômicos.

Motivos A reforma trabalhista, que acaba com o imposto sindical, está no centro da insatisfação.

Romaria Indicada por Michel Temer para assumir a PGR a partir de setembro, subprocuradora Raquel Dodge inicia nesta terça (4) sua agenda de visitas aos gabinetes de senadores. Ela trabalha para assegurar votos que precisa para ser aprovada na sabatina à qual será submetida.

Em etapas Dodge agendou os primeiros encontros com membros da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), onde precisa ser aprovada antes de seguir para a avaliação do plenário. Somente com o aval do Senado poderá suceder Rodrigo Janot na PGR.

Álibi Na avaliação dos advogados de Lula, o depoimento de Jorge Gerdau a Sergio Moro, nesta segunda (3), ajudou a defesa do ex-presidente. O empresário afirmou ao juiz que tanto contratos como indicações para a Petrobras passaram pelo conselho de administração da estatal.


TIROTEIO

A permanência de Temer na Presidência só aumenta a aflição dos que lhe são próximos. O avião está caindo e ele prefere não ver.

DO DEPUTADO FEDERAL MIRO TEIXEIRA (REDE-RJ), sobre a prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima, aliado do presidente Michel Temer.


CONTRAPONTO

O que é que o baiano tem?

Na semana passada, Otto Alencar (PSD-BA), presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia do Senado, brincou com o atraso de um convidado que falaria na sessão. O retardatário era seu conterrâneo, o secretário de Educação da Bahia, Walter Pinheiro (Sem partido-BA).

— O ônibus dele deve ter atrasado. Lá da Bahia para cá, não vem de avião — brincou Otto.

— Por que só Walter Pinheiro foi convidado? Por que não os outros secretários, de outros Estados? É uma baianice aqui? — questionou Omar Azis (PSD-AM).

— Não tem nada disso — devolveu Otto Alencar.

— E não é baianice. É baianada!