Ao saber que ia ser preso, Cunha telefonou a integrantes do governo para pedir ajuda
A captura “Eu vou ser preso, eu vou ser preso”, repetia um impaciente Eduardo Cunha, pelo telefone, a integrantes do governo ao saber que a PF estava no seu encalço. Parecia pedir ajuda. Pela manhã, no imóvel que já deveria ter devolvido à Câmara, havia recebido alguns poucos aliados. Como num dia normal, queixou-se de abandono e quis saber como Rodrigo Maia se saía no papel que considerava seu. Informado da ação, disparou ligações. “Estão atrás de mim. Vou acabar pagando esse preço.”
Não dá mais Cunha também perguntou sobre o projeto de repatriação. “Mas de nada adianta, o que é atribuído a mim ou a minha família está bloqueado”, lamentou.
Mora ao lado O peemedebista chegou abatido à carceragem da PF em Curitiba. Foi logo trancado. Fará companhia a Antonio Palocci. Apenas uma cela separa os dois presos da Lava Jato.
Socos e pontapés A polícia se preocupou em não deixá-lo no mesmo pavilhão de Alberto Youssef e Marcelo Odebrecht — além de dificultar troca de informações, quis evitar que ele e o doleiro, seu desafeto, se estranhassem.
Poderoso chefão Um integrante do Estado Maior da Lava Jato não segurou o riso. “Em uma semana ele estará mandando na custódia da PF. Vai mandar até no Marcelo.”
Mais uma dose Como de costume, vários deputados ocupavam mesas de uma churrascaria na Asa Sul quando da notícia da prisão. De imediato, começaram a circular nervosamente pelo restaurante. “Nossa profissão é de risco”, disse um aliado de Cunha a um tucano.
Sem cabeça Foi de lá que partiu a articulação para adiar os trabalhos no Congresso — um pouco por luto, outro tanto para poupá-lo. “Vão usar o tempo todo para malhar o Cunha”, argumentou um amigo protetor.
Deixe seu recado Aliados muito próximos de Cunha “desapareceram” com seus telefones celulares assim que a prisão foi divulgada.
Sangue frio Um dos aliados mais próximos de Cunha, Jovair Arantes (PTB-GO) prestou depoimento ao juiz Sergio Moro como testemunha de defesa de Claudia Cruz, mulher do ex-deputado, já depois de o juiz ter autorizado a prisão do peemedebista.
Impávido Quem acompanhou a audiência se impressionou com a frieza com que Moro conduziu o interrogatório — por videoconferência — mesmo sabendo que o ex-presidente da Câmara seria detido a qualquer momento.
Nuvens negras No Planalto, a reação em certas salas após a notícia foi de silêncio absoluto. “Tudo ficou nublado”, disse um palaciano.
Memória do cárcere Cunha almoçou, segunda (17), em SP, com o dono da Matrix, Paulo Tadeu, mas não fechou com a editora a publicação de seu primeiro livro. Terá de negociar da cadeia.
Marré deci Durante o almoço — marcado por Cunha no aeroporto de Congonhas para aproveitar a ponte aérea e, segundo ele, “economizar na passagem” –, o ex-deputado pediu que o editor reformulasse a proposta inicial.
Trilogia “A terceira temporada começa em breve”, reagiu um amigo do peemedebista — a primeira foi a queda de Dilma, a segunda, a do próprio Cunha. O capítulo final da trilogia teria o título “Michel Temer”, afirma.
Na UTI Relatório do Tribunal de Contas da União coloca a Anvisa na parede. Diz que há “graves problemas” na fiscalização dos medicamentos comercializados, “colocando em risco a saúde da população brasileira”.
De farinha O TCU diz que há “poucas ações para combater o comércio de remédios falsificados” e que o Programa Nacional de Verificação da Qualidade de Medicamentos da agência não funciona.
TIROTEIO
A Lava Jato é como a água corrente entre as pedras. Está ultrapassando todas as barreiras. Ninguém a detém!
DE GAUDÊNCIO TORQUATO, conselheiro político do presidente Michel Temer, sobre os desdobramentos da operação depois da prisão de Eduardo Cunha.
CONTRAPONTO
Os últimos minutos
Minutos antes de ser preso, Eduardo Cunha atendeu ao telefone. Era a reportagem da coluna, querendo saber se a PF havia feito busca e apreensão em sua casa no Rio.
— Verdade — respondeu lacônico.
Àquela altura, ele já sabia que seria detido, mas nada disse durante a ligação. Sua voz não refletia o estado emocional de quem estava prestes a “ser guardado”, jargão policial que significa “ser preso”. Em um novo telefonema, ele falou um calmo “está estranho”.
Instantes depois, já na terceira tentativa de conversa, o ex-presidente da Câmara não mais atendeu. Enquanto a linha chamava, a televisão o anunciava preso.