Às vésperas de votação, deputados ainda confundem por que Dilma deve ser julgada

Painel

Junto e misturado Discursos e conversas mantidas por deputados no plenário da Câmara nas primeiras sessões sobre o pedido de impeachment mostram que — para além das justificativas políticas — muitos não sabem os crimes pelos quais querem tirar Dilma Rousseff. Os que se arriscam a detalhar as acusações incluem as pedaladas de 2014, que ficaram fora do relatório, e, não raro, dizem que o julgamento é fortalecido por decisão do TCU, quando o tribunal ainda não analisou as contas de 2015.

E se? A contabilidade de 2015 –analisada no pedido de impeachment– deve ser julgada no TCU apenas em julho. Muitos deputados se alarmam diante da possibilidade de aprovação. “Seria um constrangimento”, diz um democrata.

Me deixa Cresceu no PSDB a resistência de integrantes da sigla em participar de uma eventual gestão Temer. “Seremos sócios minoritários de um governo em crise”, diz um deputado.

Menos um? A desistência do PSDB seria um golpe à proposta do vice de união nacional, avaliam tucanos.

Quem decide Nas contas de Eduardo Cunha e aliados, o voto definidor do impeachment virá da Bahia.

No gogó Na véspera da decisão, um deputado simulava, no banheiro do plenário, seus dez segundos de voto.

Raspando A oposição calcula 22 votos contra Dilma no Senado. “Não é impossível reverter”, alerta um rival do Planalto. Por outro lado, o tempo joga contra o governo, que precisaria de 28 votos para se salvar.

Outra história A previsão inclui o cenário em que Temer “apanhará” todos os dias. “E Dilma não é Collor. Tem base mínima”, diz um tucano.

 

zap

Nada de “zap” Ao final de um dos encontros de Temer com deputados do PMDB, Marcos Rotta (AM) traçou uma estratégia: “Presidente, só fique longe do WhatsApp!”, disse, lembrando o áudio enviado pelo vice.

Menina veneno No café com aliados esta semana, Dilma alfinetou mais uma vez o rival Michel Temer: “Reparou como ninguém no entorno dele tem voto?”, indagou.

Sem urna Em seguida, um deputado nomeou o núcleo duro do vice: Eliseu Padilha, Moreira Franco, Henrique Alves e Geddel Vieira Lima — todos sem mandato.

Até aqui Deputados que visitaram Temer várias vezes nos últimos meses dizem que ele está mais à vontade para criticar Dilma. Não gostou de ser chamado de golpista.

Melhor não O procurador-geral do BC, Isaac Ferreira, não deve aceitar o convite para falar, no Conselho de Ética, sobre o parecer em que pede punição a Eduardo Cunha por omitir contas no exterior. A interlocutores disse temer “uma armadilha”.

Vai sair A PGR deve dar parecer favorável à delação de Danielle Fonteles, que foi feita pela PF. A procuradoria, porém, deve pedir esclarecimentos adicionais à dona da agência Pepper, que atendia o PT. “A delação é boa”, diz um investigador.

Anda logo Já a delação da Odebrecht ainda irá demorar, dizem integrantes da Lava Jato. A empresa resiste em abrir suas operações internacionais.

Multidão Mas os dados oferecidos até agora pela empreiteira já fazem investigadores salivarem. Prefeitos, deputados, senadores, governadores e presidentes de estatais foram elencados em dúzias por executivos da empresa.

Piada de salão De um acionista da enrolada Sete Brasil: “Chega a votação do impeachment, mas não chega uma proposta da Petrobras”. Os sócios já contam com o voto da Petros para a recuperação judicial caso a estatal não melhore sua oferta.


TIROTEIO

Temer vai fazer um enxugamento radical, mas só se for às avessas. O número de pastas vai a 40 para cumprir tudo o que prometeu.

DO DEPUTADO ARLINDO CHINAGLIA (PT-SP), ex-presidente da Câmara, sobre a negociação de cargos com os partidos para um eventual novo governo.


CONTRAPONTO

Comunista, graças a Deus

De volta a Brasília depois de uma temporada como secretário do governo Geraldo Alckmin em SP Paulo, o deputado Duarte Nogueira (PSDB-SP) encontrou nos corredores do Congresso o colega Roberto Freire (PPS-SP). Com os ventos ainda bastante favoráveis à oposição no pedido de impeachment de Dilma, Freire avaliou:
— A vitória parece irreversível!
— Roberto, o lema agora deve ser: cuidai, vigiai e orai! — respondeu o tucano.
Comunista de formação, o presidente do PPS — que se formou a partir do PCB — arrancou risos:
— Concordo, mas fico só com as duas primeiras ações!