Dilma se prepara para resistir a impeachment no Senado; governo quer ganhar no “mérito”

Painel

Vou até o fim Dilma Rousseff já se prepara para 180 dias de resistência caso a abertura do impeachment seja confirmada pelo Senado. No governo, espera-se que, com o comando do processo saindo das mãos de Eduardo Cunha para as de Ricardo Lewandowski, o rito seja menos hostil ao Planalto. A expectativa é que o ajuste fiscal proposto por Michel Temer, a pressão de movimentos sociais e, finalmente, desdobramentos da Lava Jato permitam que a petista retome o mandato ao fim do julgamento.

Portas abertas Quem esteve com Renan Calheiros recentemente diz que ele tem alertado para o risco do “já ganhou”. O peemedebista afirma que o Senado aceitará o impeachment, mas que o julgamento do mérito pode ser mais favorável ao governo do que se imagina.

Munição O recurso que a AGU apresentou nesta quinta não é a única arma jurídica do governo. Novos pedidos atacarão o mérito da decisão se a Câmara aprovar o impeachment. O Planalto quer que o processo volte à estaca zero.

Não vale O PT tentará anular a indicação do PMDB para a relatoria da comissão do impeachment no Senado. Diz que a sigla é parte interessada na deposição de Dilma.

Valeu! Para não correr riscos de perder a posição, o PMDB a ofereceu ao PSDB. Mas o senador Aécio Neves, que indicou Antonio Anastasia para a presidência, recusou a oferta. Não quer o posto de algoz do impeachment.

Meu erro O Planalto admite ter menosprezado a capacidade de Temer de cooptar aliados e o poder do que Dilma chama de “guerra psicológica”: a sensação transmitida pelo inimigo de que a vitória já estaria dada.

Quem manda A despeito da ideia de um ministério de notáveis, Temer quer uma coisa de sua futura equipe: votos no Congresso. Precisa que os nomes para a Esplanada elevem a fidelidade das bancadas.

Muy amigo Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB, deu o cano em Dilma no café oferecido nesta quinta. Palacianos ficaram enfurecidos.
Esse aí passou Já o Palácio do Jaburu está “satisfeitíssimo” com o desempenho de Picciani. “Se ele trouxer votos, pode até ficar na liderança”, diz um cacique aliado do vice.

Vai que dá Se sobreviver ao impeachment, Dilma quer montar uma base enxuta e fiel. “Não quero uma maioria balofa”, disse a líderes. Trata-se, na verdade, de necessidade. O Planalto sabe que uma maioria numérica é sonho irrealizável.

Chegou a hora O ministro Gilberto Kassab (Cidades) disse a amigos que deixará o governo seja qual for o resultado de domingo. “Não me sentiria confortável”, disse.

Dúvida A militância pressiona para que Lula esteja com Dilma em evento no sábado. Ele não confirmou.

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‌Doce lar Temer deve assistir à votação de domingo em SP. “Os vizinhos são melhores”, brinca um aliado, sobre a proximidade entre o Jaburu e o Alvorada, residências oficiais do vice e de Dilma.

Resta um? O PMDB escolheu os deputados que falarão em nome da bancada no domingo: Soraya Santos (RJ), Osmar Serraglio (PR), Lelo Coimbra (ES), Manoel Junior (PB) e Leonardo Picciani (RJ).

Predestinado De Chico Alencar (PSOL-RJ), sobre as esperadas “traições”: “Quando até Hugo Leal, com esse sobrenome e vice-líder do governo até a semana passada, decide votar contra Dilma, é que as coisas estão difíceis.”

Interessa? A Odebrecht Transport iniciou conversas com a japonesa Mitsui para a venda de parte de seu investimento em rodovias, portos e no aeroporto do Galeão. As duas já são sócias na companhia que controla a Supervia e a linha 6 do metrô de SP.


TIROTEIO

A Fiesp diz que não vai pagar o pato e financia os grupos pró-impeachment com dinheiro de impostos. O Skaf é um Mario Amato 2.0.

DO DEPUTADO VALMIR PRASCIDELLI (PT-SP), sobre o atual e o antigo presidente da Fiesp, que atuou contra a candidatura de Lula em 1989.


CONTRAPONTO

Política não se discute

Ministros do PMDB e senadores petistas jantavam na casa do presidente do Senado na noite de quarta-feira (13). O menu era a crise e a votação que poderia depor a presidente da República dali a quatro dias.
Todos falavam alto, avaliando o quadro, exceto o anfitrião Renan Calheiros, que estava quietinho num canto da sala, agarrado com um celular.
— Psiu, estou acompanhando o jogo — disse o peemedebista, deixando muitos intrigados.
— Que jogo? — perguntou um dos convivas.
— Murici X CRB. Estamos ganhando de 3 a 0! — explicou, para risada de todos os presentes.