Braço direito de Temer sonda deputados sobre agendas prioritárias num eventual novo mandato
Tudo amarradinho O vazamento do áudio em que o vice-presidente fala como se o impeachment já estivesse aprovado não é um caso isolado de antecipação do resultado da votação de domingo. Moreira Franco, braço direito de Michel Temer, iniciou, por meio da Fundação Ulysses Guimarães, instituição do PMDB por ele comandada, uma consulta a deputados para medir a temperatura na Câmara em um eventual governo Temer. Quer saber quais as agendas prioritárias para um novo mandato.
Ponte aérea O vice foi ao Rio nesta segunda (11) tentar convencer Jorge Picciani a apoiar o fechamento de questão a favor do impeachment.
Timeline O grupo de WhatsApp em que o vice-presidente postou o áudio com seu “pronunciamento” foi criado na véspera, às 10h08, por Eliseu Padilha, operador de Temer.
Borracha Dezoito minutos depois do envio do áudio, um assessor do vice pede que o “apaguem”. “Era apenas um exercício para um possível discurso”, escreve no grupo.
Projeto “He-Man” O governo desconfia de vazamento proposital para demonstrar força — o que costuma influenciar indecisos no Congresso. Na mensagem, Temer fez acenos “ao capital”, aos trabalhadores, aos governadores e a movimentos sociais.
Terreno na lua Um líder empresarial diz que o teor do áudio até ajuda a reduzir resistências, mas não empolga: “Não dá para agradar a todos ao mesmo temo. Tem de ser muito artista para conseguir isso.”
Não rolou Rogério Rosso, presidente da comissão do impeachment, segurou o andamento da sessão na esperança de proferir ao vivo o resultado da votação no Jornal Nacional.
Só isso? “Quem diz ter dois terços no plenário deveria ter mostrado força na comissão, pois o colegiado foi montado pelo Eduardo Cunha”, diz José Guimarães, líder do governo.
Sem retorno O PRB, primeiro partido a deixar a base, decidirá nesta terça (12) qual será sua posição em relação ao impeachment. Dos 22 deputados, 18 querem a saída de Dilma. Ou se fechará questão pela deposição ou a bancada será liberada.
Vê longe Horas antes do resultado final, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, já antecipava o placar da comissão do impeachment entre interlocutores mais próximos. Cravou o resultado de 38 a favor e 27 contra Dilma.
Gostei! Do deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), aliado do vice Michel Temer: “Não nos envergonha o áudio do Michel. Ao contrário, nos orgulha. Já o áudio de Dilma e de Lula o governo tenta esconder”.
Ajudinha Depois de o áudio do vice vazar “por engano”, segundo a assessoria de Temer, Eliseu Padilha estimulou pelo Twitter que ele fosse ouvido pelos internautas: “Suas palavras são esclarecedoras sobre o momento”.
Não dá Para Raimundo Bonfim, do CMP, que integra a Frente Brasil Popular, a atitude de Temer, um dia após o Datafolha mostrar que 58% desejam seu impeachment, foi, em suas palavras, “patética”: “O governo Temer morreu antes de começar”.
Roda girando Um analista político observa que o governo conseguiu, na semana passada, passar a sensação de que começara a “virar o jogo” do impeachment a partir da percepção de que as notícias “pararam de piorar”. O fim de semana mostrou que isso pode não ser suficiente.
Aviso prévio Eunício Oliveira (CE), líder do PMDB no Senado, recebeu ameaças de que suas fazendas podem voltar a ser invadidas no dia 15 de abril, quando a votação do impeachment deve começar no plenário da Câmara.
TIROTEIO
José Eduardo Cardozo, que me deu tanta dor de cabeça na Funai, está se saindo melhor do que a encomenda. Estava no lugar errado.
DA MINISTRA KÁTIA ABREU (AGRICULTURA), comparando a atuação do ministro da AGU na defesa de Dilma e sua gestão no Ministério da Justiça.
CONTRAPONTO
Novo vírus na praça?
O deputado Washington Reis (PMDB-RJ) se ausentou da votação da comissão que analisou o pedido de impeachment de Dilma afirmando ter sido acometido por uma fortíssima gripe.
A notícia deixou o governo preocupado. Na falta de Reis, assumiria o posto o deputado Laudívio Carvalho. Seu partido, o Solidariedade, é pró-impeachment.
O episódio transformou-se em troça. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, não perdeu a oportunidade. Sem citar o caso específico do colega, divertiu aliados com o seguinte trocadilho:
— Aqui não tem gente com H1N1. Tem gente com H171!