Governo prevê paralisia completa na economia até desfecho do impeachment

Paulo Gama

Barbas de molho O governo prevê um cenário de paralisia completa na economia até a definição do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Durante a fase aguda da crise política, não há expectativa de retomada de investimentos nem de novos leilões de concessões. Reformas como a da Previdência, que poderiam ajudar a reequilibrar as contas, também estão fora do horizonte. “Enquanto a Câmara for um buraco negro em que nenhuma luz escapa, não há medida que ande”, resigna-se um ministro.

Água no umbigo O governo também elenca “sinais do apocalipse” na economia: o rebaixamento da nota de crédito do país pela Moody’s; um salto exagerado no índice de desemprego; ou uma crise localizada que impeça pagamentos de salário em um setor do funcionalismo indicariam um ponto sem retorno.

Muita calma… Depois das manifestações contra Dilma neste domingo —com quorum menor do que o de atos anteriores—, líderes da oposição defendem “jogar para frente o máximo possível” o início do processo de impeachment na Câmara.

… nessa hora Para retardar o trâmite, já há articulação que embargos de declaração sejam apresentados ao Supremo Tribunal Federal caso a corte conclua a decisão sobre o rito do impeachment na sessão desta quarta-feira.

Meio cheio Com a avaliação de que o processo pode de fato atrasar, o Planalto prefere não cantar vitória em relação ao tamanho das manifestações. “A expectativa era de atos menores. Qualquer surpresa significaria o fim imediato do governo”, diz um auxiliar direto da presidente.

Meio vazio Na avaliação do governo, o cenário econômico aliado às atividades da comissão do impeachment devem ser suficientes para engrossar o coro das ruas contra a presidente.

Confronto direto Petistas agora se empenham para que os atos de quarta-feira, em defesa de Dilma, sejam maiores que os deste domingo.

Sem limite De um ministro do STF, sobre a manifestação da Câmara que aponta que Edson Fachin decidiu sobre um tema que não era alvo da ação questionando o rito do impeachment: “Qualquer estudante sabe que, em ações de constitucionalidade, o tribunal pode examinar a lei em todos os seus aspectos”.

Evolução O patrimônio do novo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Quintão (MG), cresceu 750% em quatro anos: em 2014, chegou a R$ 17,9 milhões, dos quais
R$ 2,6 milhões são dinheiro vivo. Ele diz que está tudo declarado no Imposto de Renda.

Nem vem O PR decidiu retaliar o senador Magno Malta (ES), defensor ferrenho do impeachment, e excluí-lo do programa que a sigla leva à TV na quinta-feira. A medida atende à diretriz do Planalto de não dar vida fácil a aliados que se mostrem favoráveis à deposição de Dilma.

Pagando pra ver Quase uma mês depois de anunciar que iria se filiar ao PMDB, Blairo Maggi (MT) ainda não pediu para deixar o PR oficialmente. Caciques da sigla dizem que o senador já não está tão seguro da troca.

Cinco estrelas A transferência de Delcídio do Amaral (PT-MS) da Polícia Federal para um quartel da PM refrescou a vida do senador em dois pontos: ele não vinha conseguindo tomar banho de sol e era incomodado pelo barulho de um gerador, que funciona 24 horas por dia.

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Decorativo Kim Kataguiri, do MBL, assistiu à palestra de Michel Temer na sexta, em São Paulo, mas diz que sua presença não indica apoio ao vice. Estava lá porque vai estudar no IDP, ligado a Gilmar Mendes, que sediou o evento.

Eu sozinho Temer tem lembrado a interlocutores que não deu procuração a ninguém para tratar da montagem de um futuro governo.


TIROTEIO

Não se trata de vitória ou derrota. Os atos são normais, e o número de pessoas mostra que o povo não vai aderir aos atalhos golpistas.

DO DEPUTADO JOSÉ GUIMARÃES (PT-CE), líder do governo na Câmara, sobre as manifestação deste domingo pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff.


CONTRAPONTO

Vamos mudar de assunto?

Ao apresentar Michel Temer para a plateia do Instituto de Direito Público de São Paulo que acompanharia a palestra do vice-presidente, nesta sexta-feira, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes afirmou:

—Ao longo de quase cinco décadas de vida pública, vossa excelência, Michel, com passo firme, mas sereno, vem construindo carreira política notabilíssima.

No início de sua fala, depois de agradecer as palavras do ministro, o vice soltou, arrancando risadas:

—Eu e Gilmar nos conhecemos há mais de 30 anos. Ele disse que eu atuo há cinco décadas. Poderia, tranquilamente, ter omitido essa informação.