Com prisão de líder, turbulência política volta a abater governo
Ressaca prolongada O governo passou o dia seguinte à prisão de seu líder no Senado, Delcídio do Amaral (PT-MS), encolhido. Sem estratégia clara para reagir, não conseguiu mostrar que “a vida segue”, como pretendia. O Congresso tende, por inércia, a parar em quase tudo relativo à economia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), até aqui arrimo legislativo do Palácio do Planalto, começa a dar sinais de distanciamento. A percepção geral é de que o melhor já passou e o pior ainda está por vir.
Fluxo e refluxo No radar do mundo político, a crise voltaria a dar o ar da graça a partir de fevereiro, mas a operação de quarta antecipou esse calendário.
Perigo à vista Antes de receber seus advogados na Polícia Federal, Delcídio dava sinais de que poderia colaborar com as investigações. Não se sabe se mudou de ideia ao ter contato com sua defesa.
Crime e castigo A Procuradoria-Geral da República recolhe o resultado da busca e apreensão para denunciar, até a próxima terça-feira, o senador e seu chefe de gabinete, Diogo Ferreira.
Toma juízo Mesmo crítico do governo, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) defende a aprovação da nova meta fiscal até dezembro. “Não se pode partidarizar o deficit. Tem de resolver.”
Lava as mãos “Já a LDO e o Orçamento, não sei”, afirma o peemedebista.
Alô, Congresso Os ministros Joaquim Levy e Nelson Barbosa chegaram a telefonar para Renan Calheiros pedindo que a pauta econômica fosse conduzida com “normalidade”. A avaliação, no entanto, foi a de não há o que ser feito diante do imobilismo do governo.
Pacotão 1 Com o ambiente no Senado conflagrado, e com Renan batendo em retirada, aliados de Eduardo Cunha andam oferecendo ajuda ao Executivo caso o PT vote a favor do peemedebista no Conselho de Ética.
Pacotão 2 Em troca, o presidente da Câmara agilizaria a DRU e a CPMF, além de não prorrogar a CPI do BNDES e a dos Fundos de Pensão.
Bílis Auxiliares diretos de Dilma Rousseff afirmam que o PT se precipitou ao soltar a nota abandonando Delcídio. Avaliam que a cúpula da sigla agiu com o fígado.
Sem contrato Depois da prisão de André Esteves, a SP-Prevcom, entidade que administra a previdência complementar dos servidores públicos paulistas, decidiu substituir o BTG como gestor dos R$ 350 milhões de investimentos de seus 18 mil participantes.
Imagem Procurada, a entidade ligada à Secretaria da Fazenda de São Paulo dizse ter tomado a decisão para preservar sua imagem e reputação, já que sua política “veda qualquer associação com empresas que façam operações fora dos padrões éticos”.
Outro lado “Lamentamos a decisão, pois as acusações não procedem”, afirma o BTG.
Medida… Miro Teixeira (Rede-RJ) enviará à presidente ofício pedindo que se pronuncie sobre a prisão de Esteves e determine que o Banco Central torne indisponíveis os ativos do BTG.
… extrema? Dilma não precisa cumprir a orientação, mas pode ser responsabilizada caso a alegação do parlamentar se confirme. O deputado diz temer que “eles coloquem o banco à venda” e “embolsem todo o dinheiro que podem ter ganhado à custa de corrupção”.
Vai pra rua O Vem Pra Rua enviou carta ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedindo celeridade nas denúncias contra os políticos da Lava Jato.
Carinho especial A OAB vai julgar até o fim do ano todos os processos disciplinares pendentes. Com isso, quer decidir sobre o pedido de cassação do registro de José Dirceu assim que ele chegar da seção paulista.
Tête-à-tête Antes de embarcar para a COP 21, a ministra Izabella Teixeira (Meio Ambiente) conversou com FHC sobre a proposta do Brasil. Ele sugeriu ampliação do percentual de energia renovável na matriz brasileira.
TIROTEIO
Falta clareza ao PT sobre Estado democrático de Direito. Ao invés de criticar uma prisão que rasga a Constituição, ataca o Delcídio.
DE CARLOS ZARATTINI (PT-SP), sobre a nota em que o presidente do partido diz que o PT “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade” ao senador.
CONTRAPONTO
Elizabeth II
Na conversa que levou Delcídio do Amaral (PT-MS) à prisão, o advogado Edson Ribeiro diz que o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, está em “situação difícil” porque quem ainda manda na estatal é a ex-presidente Graça Foster. Delcídio intervém:
–Eduardo Braga foi companheiro nosso de Senado. É mandão. Na reunião com ministros, ele não deu um pio. Ou seja, a Petrobras está sendo comandada pela Dilma.
Mais à frente, o advogado solta:
–Bendine é a rainha da Inglaterra. Delcídio ri.