Em encontro no Rio, Cunha e oposição definem roteiro do impeachment
Verdades secretas Uma reunião entre os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Carlos Sampaio (PSDB-SP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ), neste sábado, no Rio, definiu o script do processo de impeachment. No encontro, ocorrido pouco antes de a oposição divulgar uma nota pedindo a renúncia do presidente da Câmara, ficou acertado que o peemedebista pode acatar sumariamente um pedido de impeachment contra Dilma Rousseff desde que este se concentre em irregularidades cometidas em 2015.
Volver O roteiro inicial previa que o presidente da Câmara arquivaria o pedido de impeachment formulado por Hélio Bicudo e a oposição, então, ingressaria com um recurso no plenário.
Calendário Mas, conforme o plano discutido no encontro, o PSDB anexará nesta terça à manifestação do jurista informações de que as pedaladas continuaram este ano, conforme acusação do procurador do Ministério Público no TCU, Júlio Marcelo.
Calma lá Cunha, então, indeferirá quase todos os requerimentos de impeachment pendentes, deixando o pedido de Bicudo, aditado pela oposição, para analisar depois, possivelmente até o fim da semana.
Letra da lei Em conversas reservadas, o presidente da Câmara tem dito que não fará “nada que não se justifique tecnicamente”.
Mise-en-scène Todos negam ter tramado a deposição da petista no encontro de sábado. Oficialmente, a oposição diz que, “por uma questão de gentileza”, procurou Cunha para informá-lo previamente sobre a nota que pediria o seu afastamento da Câmara.
Leão da montanha Nos últimos meses, o chefe da Fazenda, Joaquim Levy, vinha se recusando a integrar o grupo de ministros escalado para defender o governo contra a acusação de ter cometido as pedaladas.
Sem saída Agora, diante das alegações do procurador Júlio Marcelo de que a área econômica do Executivo manteve as práticas irregulares em 2015, colegas dizem que Levy não tem mais como fugir do assunto.
Pela tangente Antes, sempre que era chamado a dar entrevistas, o ministro soltava um “não é comigo”.
Agora vai? O PT deflagra nesta segunda-feira uma consulta interna para definir se entrará com pedido de cassação de Eduardo Cunha no Conselho de Ética. PC do B e PDT também estão ouvindo seus parlamentares.
Fechando o cerco Para o governo, o ideal é que vários partidos apresentem pedidos simultaneamente para fragilizar o presidente da Câmara.
Não é fácil As divisões internas e a influência que Cunha ainda mantém sobre os deputados estão atrapalhando o movimento conjunto.
Tudo junto… Os secretários Rodrigo Garcia (DEM), Arnaldo Jardim (PPS) e o vice-governador Márcio França (PSB) se reuniram na semana passada para discutir o papel de seus partidos nas eleições municipais de 2016.
…e misturado Os três decidiram que, caso o PSDB não apresente um candidato a prefeito de São Paulo que tenha total apoio do governador Geraldo Alckmin, eles estarão liberados para seguir um caminho alternativo à candidatura tucana.
Longo prazo A ideia é que as siglas também consigam lançar juntas o maior número possível de candidatos em todo o Estado, um ensaio para a fusão dos três partidos com vistas à eleição de Alckmin à Presidência em 2018.
Um pé lá Os vereadores do PT Vavá e Alessandro Guedes, além de Wadih Mutran, do PP, foram procurados pelo PDT para trocar de partido. Pela nova lei, eles têm até março de 2016 para fazer a mudança sem o risco de perder o mandato.
Costurado O assédio do PDT paulistano faria parte de um acordo firmado entre o prefeito Fernando Haddad e vereador Netinho de Paula para garantir o apoio do partido à sua campanha de reeleição.
TIROTEIO
A oposição é uma vergonha. Perdeu a linha com Eduardo Cunha. Não quer andar de mãos dadas, apenas namorar no escurinho.
DO DEPUTADO ORLANDO SILVA (PC DO B-SP), sobre o jogo da oposição de se afastar publicamente de Cunha mas seguir com ele nos bastidores.
CONTRAPONTO
Entre tapas e beijos
Aliado de Dilma Rousseff, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), jantava no sábado com o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), um dos articuladores do impeachment.
Amigos de longuíssima data, prefeito e congressista provocavam-se.
–Pleno sábado e eu com o maior golpista de todos –brincou Paes.
–Eu ser golpista todo mundo entende. Pior é ser dilmista, o cara tem de se explicar –rebateu Sampaio, líder do PSDB na Câmara. Ambos riram.