Cunha promete travar ajuste fiscal para retaliar Planalto
NATUZA NERY (interina)
Ajuste sob risco De inimigo íntimo a adversário declarado, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), jurou de morte a medida que prevê a repatriação de aproximadamente R$ 30 bilhões aos cofres da União. Também promete realizar uma “operação tartaruga” na tramitação do projeto que altera a desoneração da folha de pagamento para diversos setores da economia. As duas propostas são cruciais para o sucesso do ajuste fiscal desenhado pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Mãozinha “Não vou ajudar o Julio Camargo [empresário que o acusa de pedir propina] a trazer dinheiro sujo lá de fora”, disse Cunha a um interlocutor, sobre o texto da repatriação de recursos.
Linha cruzada Após a notícia do rompimento, Levy disparou telefonemas a integrantes do primeiro escalão do governo preocupado com o destino do pacote para reequilibrar as contas públicas.
Ah, é? A presidente Dilma Rousseff orientou seus ministros a não subir no ringue contra o ex-aliado, mas o Executivo atuará nos bastidores para enfraquecer a base política do peemedebista.
Às armas A articulação política do governo cogita lançar mão da artilharia tradicional para tentar atrair seguidores do peemedebista: oferecer cargos e emendas.
Outro time Um importante ministro de Dilma comparou Cunha ao velho ACM. “Antônio Carlos Magalhães esbravejava igual, mas teve de renunciar no escândalo do painel eletrônico. Grito não segura se houver pecado.”
Bolado 1 A personagem Dilma Bolada passou a sexta-feira publicando críticas a Cunha no Facebook e convocou um panelaço contra a fala do peemedebista na TV.
Bolado 2 No meio da tarde, o criador da personagem, Jeferson Monteiro, estava de laptop em punho, no Palácio do Planalto, conversando com um servidor justamente sobre Cunha. Horas antes, postava: “Coisa ruim a gente não perde, a gente se livra”.
Passou do tom A entrevista do presidente da Câmara deflagrou uma insurgência silenciosa de aliados que se dispõem a abandoná-lo. É cedo, porém, para declarar seu isolamento. Com o apoio de empresários, ele ajudou a financiar a campanha de mais de cem deputados.
Alvo comum Apesar do silêncio sobre o caso, Renan Calheiros (PMDB-AL) estava em sintonia com Cunha na conversa que tiveram na quinta-feira. O vice-presidente Michel Temer perguntou se o chefe do Senado também via influência do governo nas denúncias. “Sem dúvida”, respondeu Renan.
Sem sigilo O presidente do Senado afirmou a aliados que também teve suas finanças “devassadas” pela Receita Federal, assim como Cunha acusou em sua colérica entrevista a jornalistas.
Pânico A Politeia voltará ao Congresso na semana que vem. Não se trata, porém, da operação policial que atingiu o Senado na terça, mas de um projeto universitário anunciado pela assessoria da Câmara, que não atentou para a coincidência do nome.
SRI De olho em 2018, Geraldo Alckmin vem recebendo congressistas de outros Estados para tratar do cenário nacional. Nas conversas, o tucano relata preocupação com um possível processo de vitimização do PT em caso de impeachment de Dilma.
Caneta Prefeitos esperam que Dilma não vete nenhum item do projeto que permite o uso de depósitos judiciais para aliviar as dívidas de cidades grandes e médias. A petista foi aconselhada por assessores a sancionar o texto.
Visita à Folha Luís Inácio Adams, ministro-chefe da Advocacia-Geral da União, visitou ontem a Folha. Estava acompanhado de Adão Paulo Martins de Oliveira, assessor de comunicação.
TIROTEIO
Cunha acusar Janot pela denúncia da propina de U$ 5 milhões que teria pedido é como culpar uma árvore pelo incêndio na floresta.
DO DEPUTADO CHICO ALENCAR (PSOL-RJ), sobre Eduardo Cunha (PMDB-RJ) ter atacado Rodrigo Janot pela delação em que é acusado de receber propina.
CONTRAPONTO
Parceria estratégica
Em encontro com presidentes do Mercosul em Brasília, nesta sexta-feira, Dilma Rousseff presenteou sua homóloga argentina, Cristina Kirchner, com os mascotes da Olimpíada de 2016, Tom e Vinícius misturas de fauna e da flora brasileiras.
Já com os dois bichos de pelúcia em mãos, Cristina surpreendeu com um pedido inusitado.
—Tenho netos. Posso levar mais?
A petista, então, deu a ordem para que assessores providenciassem mais um mascote.
—O que a gente não faz pela parceria estratégica —resmungou, baixinho, um diplomata gaiato.