Em meio à crise e à Lava Jato, Cunha tenta erguer candidatura ao Planalto
NATUZA NERY (interina)
De olho na faixa A tese da candidatura própria do PMDB à Presidência num momento de aguda crise política foi um ato calculado. Se a Lava Jato deixar, Eduardo Cunha tentará pavimentar seu caminho ao Palácio do Planalto. Ele promove desgastes ao governo e preside a Câmara de olho nas pesquisas de opinião. Mas há colegas no páreo, o vice Michel Temer e o prefeito Eduardo Paes. “Maquiavel ensinava: dividir o adversário é a primeira estratégia para governar”, brinca o presidenciável Aécio Neves.
Sem refresco Apesar de o governo contar com a pausa do Legislativo para esfriar a temperatura da crise, o grupo de Cunha articula surpresas desagradáveis no recesso.
Cara crachá Um deputado do PMDB do Rio pediu oficialmente a lista de todos os delegados que atuam na Lava Jato. Investigadores viram na solicitação uma tentativa de intimidar a polícia.
Diferente Uma testemunha da conversa entre Dilma e Lula na terça-feira notou que a presidente da República falou menos e ouviu mais. E estava calma, disse.
Quieto Outro participante apontou que o ministro da Defesa, Jaques Wagner, quase não se manifestou. Pessoas que estiveram com Lula relatam que o ex-presidente vê o auxiliar apático e escondido.
É guerra? Trajado com uniforme militar, Wagner posou para fotos em cima de um tucano. Não se tratava de um adversário político, mas de um dos caças da FAB.
Dá cá No almoço com a petista e ministros, Lula cobrou do governo ação mais incisiva com os partidos da base aliada que ocupam ministérios de destaque. E reclamou que os ministros precisam se responsabilizar pelas votações no Congresso de interesse do Executivo.
Na telinha O marqueteiro João Santana trabalha no filme do PT que irá ao ar em 6 de agosto, dez dias antes das manifestações de rua organizadas pela oposição. O programa fará forte defesa do partido e do governo.
Gregos… A divergência entre Joaquim Levy (Fazenda) e Nelson Barbosa (Planejamento) sobre o grau do freio de mão na economia rendeu apelidos aos ministros.
… e troianos Enquanto o primeiro é chamado de Joaquim Merkel, em alusão à ortodoxa chanceler alemã, o segundo leva a alcunha de Nelson Tsipras, em referência ao primeiro-ministro grego que lutou contra um arrocho fiscal imposto pela Europa.
Fio do bigode Governadores se comprometeram com Levy a atuar pela aprovação da reforma do ICMS no Congresso. O assunto foi tratado por Geraldo Alckmin e Renan Calheiros na quarta.
Turbina Os governos do Brasil e da Bolívia devem assinar nos próximos dias um memorando para a instalação de duas hidrelétricas: uma binacional no rio Madeira e uma em território boliviano.
Rolo… Construtoras citadas na Lava Jato tentam entrar nas primeiras obras do programa de concessões. Devem firmar parcerias com parte das 49 empresas que manifestaram desejo nos projetos.
… compressor No caso das estradas, o grupo CCR, que tem participação acionária da Andrade Gutierrez e da Camargo Corrêa, se interessa por alguns trechos.
Cutucando a onça A defesa de executivos da OAS na Lava Jato provocou Sergio Moro. Sugeriu que o juiz foi lento ao tratar das escutas encontradas na cela de Alberto Youssef, mas “ágil nas decisões que beneficiam a PF e o Ministério Público”.
Visita à Folha Celso Lafer, presidente da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), visitou ontem a Folha, onde foi recebido em almoço. Estava acompanhado de Carlos Eduardo Lins da Silva, consultor de comunicação.
TIROTEIO
Nada republicano um encontro entre o presidente da Câmara e um ministro do Supremo para tratar de impeachment.
DO DEPUTADO HENRIQUE FONTANA (PT-RS), sobre o encontro de Eduardo Cunha e Gilmar Mendes em que abordaram a saída de Dilma Rousseff.
CONTRAPONTO
O papa é pop
O ato em defesa da democracia e do governo Dilma Rousseff, na última quarta-feira em São Paulo, reuniu militantes de partidos políticos, representantes de movimentos sociais e acadêmicos.
Ao discursar, o ex-vereador Jamil Mourad, referência no PC do B, decidiu tratar o papa Francisco que recentemente fez discursos com críticas ao capitalismo como o companheiro papa. Rui Falcão, presidente do PT, não deixou passar batido:
—Quando um velho comunista como o Jamil decide chamar o papa de companheiro, é porque estamos em bons tempos! —disse, arrancando risos.