STF homologa delação de funcionário que entregava dinheiro a políticos

Bruno Boghossian

O ministro Teori Zavascki, relator no Supremo Tribunal Federal dos inquéritos da Operação Lava Jato, homologou o acordo de delação premiada entre a Procuradoria-Geral da República e Rafael Angulo Lopez, funcionário do doleiro Alberto Youssef que fazia pessoalmente a entrega de propinas a políticos.

Nesta quinta-feira (7), Angulo disse em depoimento à Polícia Federal que políticos iam aos escritórios de Youssef em São Paulo para receber o dinheiro pessoalmente. Em outras ocasiões, o funcionário viajava a Brasília com dinheiro escondido em “meias tipo meiões de futebol” para entregar aos agentes públicos.

O termo de declarações de Angulo afirma ele compareceu à sede da PF em Curitiba “na condição de colaborador, conforme acordo de colaboração premiada devidamente homologado junto ao Supremo Tribunal Federal”.

Angulo disse que “a partir de 2007, passou a ter um relacionamento mais próximo com outros agentes políticos, sempre acompanhado de Alberto Youssef”. O funcionário afirmou que o doleiro pedia para que ele separasse e colocasse dinheiro em envelopes ou sacolas de shoppings ou supermercado que eram entregues aos políticos que visitavam seu escritório. “Youssef entregava, em seguida, a quantia para o político, na frente do declarante”, relata o termo de declarações da PF.

A colaboração de Angulo é considerada essencial para as investigações contra políticos no Supremo, pois pode comprovar a origem do dinheiro desviado do esquema de corrupção na Petrobras e a entrega desses valores para agentes públicos.

ANDRÉ VARGAS

No depoimento desta quinta-feira, Angulo afirmou que entregou R$ 640 mil em fevereiro de 2014 ao então deputado pelo PT do Paraná André Vargas, a pedido do doleiro.

O funcionário de Youssef entregou aos investigadores uma planilha que revela três pagamentos que teriam sido feitos a Vargas em Brasília: duas remessas no dia 19 de fevereiro, com valores de R$ 365 mil e R$ 135 mil, e outra no dia 26 de fevereiro, de R$ 140 mil.

Para provar que viajou a Brasília para entregar o dinheiro a Vargas em fevereiro de 2014, Angulo entregou à Polícia Federal cópias dos cartões de embarque dos voos. No dia 19, por exemplo, ele deixou o aeroporto de Congonhas, em São Paulo, às 6h47 da manhã e retornou de Brasília às 15h do mesmo dia, em voos da TAM.

O material foi juntado ao processo contra Vargas na Justiça Federal do Paraná. O parlamentar foi cassado em dezembro de 2014 e preso pela PF em abril deste ano.

O delator ressaltou que Vargas frequentava o escritório, mas “em nenhuma dessas oportunidades” testemunhou a entrega de dinheiro pelo doleiro ao então deputado. Angulo acrescentou que fez “algumas viagens para entregar dinheiro em espécie” para Vargas em Brasília.

Procurada, a defesa de Vargas não comentou o depoimento até a publicação deste texto.