Cerveró diz que lobista atuava em mais duas diretorias da Petrobras

Bruno Boghossian
O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró chega à PF, em Curitiba (Daniel Derevecki – 14.jan.15/Reuters)

O ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró disse em depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (15) que o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano, atuava nas diretorias de Abastecimento e de Gás e Energia da estatal. A Diretoria de Abastecimento foi comandada por Paulo Roberto Costa entre 2004 e 2012, e a Diretoria de Gás e Energia foi ocupada por Ildo Sauer de 2003 a 2007, e pela atual presidente da companhia, Maria das Graças Foster, entre 2007 e 2012.

Sem especificar datas, Cerveró relatou a dois delegados da PF em Curitiba que conheceu Baiano em 2000 e que o lobista “continuou frequentando a Petrobras representando outras empresas, tendo se dirigido a outras diretorias, como a Diretoria de Abastecimento e [a Diretoria de] Gás e Energia”.

Preso na madrugada de quarta-feira (14),  o ex-diretor disse que mantinha “uma certa relação de amizade” com Fernando Baiano, acusado de desviar US$ 40 milhões de propina em 2006 e 2007 para intermediar a contratação de navios-sonda pela estatal.

Cerveró afirmou aos investigadores que Baiano representava empresas interessadas nos contratos, mas disse “não ter recebido ou lhe ter sido oferecida qualquer vantagem financeira” pela transação. O ex-diretor disse acreditar que Baiano “recebesse algum tipo de comissão” por intermediar contratos entre empresas privadas e a Petrobras, mas não soube informar o valor.

Segundo o termo de declarações, o ex-diretor disse “nunca ter sido oferecida qualquer vantagem direta ou indireta por parte de Fernando Soares a fim de que agisse para atender os interesses deste ou das empresas que o mesmo representava”.

Cerveró afirmou aos delegados que Baiano indicou o empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal, para o fornecimento de navios-sonda para a Petrobras. “Foi agendada uma reunião por volta do ano de 2006, salvo engano, no gabinete da Diretoria Internacional no Rio de Janeiro, ocasião em que estavam presentes o declarante, Júlio Camargo, um diretor da Mitsui-Toyo, um diretor da Samsung”, declarou.

O ex-diretor disse que Fernando Baiano não participou das negociações sobre a contratação dos navios-sonda, mas afirmou acreditar que “o mesmo tenha feito algum tipo de tratativa com Júlio Camargo, presumindo que o último tenha recebido algum tipo de comissão quanto a esse negócio, desconhecendo o valor”.

Cerveró afirmou que transferiu imóveis a seus filhos e a uma neta em maio de 2014 “como antecipação de herança”, e que declarou o valor de compra dos imóveis na transação “para fins de imposto, embora saiba que o valor de mercado destes seja muito maior”. Questionado sobre declarações de seu advogado sobre Graça Foster, o ex-diretor disse que “a atual presidente da Petrobras realizou operações semelhantes, transferindo imóveis aos filhos dela”.

Cerveró declarou que não possui contas no exterior em seu nome ou de terceiros e que nunca recebeu pagamentos fora do país “a qualquer título”. Afirmou ainda nunca ter mantido contato com o doleiro Alberto Youssef e que o viu “pela primeira vez” na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, onde está desde quarta-feira.