Com grampo, só renúncia ou cassação pelo TSE serão opções para Temer, dizem aliados e rivais

Painel

A cruz e a espada Comprovada a existência de gravações envolvendo o presidente Michel Temer, aliados e adversários do governo reconhecem que a hecatombe lançada pelos donos da JBS sobre o Planalto legará ao peemedebista só dois caminhos: a renúncia ou o afastamento pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A corte, que julga a cassação da chapa pela qual ele se elegeu, será pressionada a restaurar a “institucionalidade” no país. Ato contínuo, a oposição vai fazer carga por eleições diretas.

Temos pressa A expectativa no fim da noite desta quarta (17) era de que o TSE fosse convocado a antecipar o julgamento da ação contra a chapa Dilma-Temer, marcado para o dia 6 de junho.

E agora? No TSE, o clima era de apreensão. O presidente da corte, Gilmar Mendes, estava na Rússia, em missão oficial, quando as primeiras notícias sobre o caso saíram. Um ministro do tribunal disse que havia expectativa de que a delação da JBS fosse comprometedora, mas ninguém imaginava algo tão grave.

Alto risco Apesar da pressão, a renúncia de Temer é considerada improvável, especialmente pela situação delicada em que o peemedebista poderia ficar, sem mandato, com gravação de obstrução de Justiça na Lava Jato.

Calma A presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Cármen Lúcia, deixou a corte logo cedo nesta quarta-feira. Seu colega, o ministro Marco Aurélio Mello pediu cautela. “Temos que ter serenidade para acompanhar o desenrolar dos fatos.”

Intuição Joesley Batista também tentou falar com o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), líder do PMDB. O parlamentar não achou “prudente” marcar a conversa, segundo relato de aliados.

E ele? No fim da noite desta quarta, assessores do governo Temer já afirmavam que “só Henrique Meirelles”, o ministro da Fazenda, poderia evitar que o país fosse “para o vinagre”. O economista atuou para o grupo JBS.

Blindado Pessoas próximas ao ministro dizem considerar improvável que ele tenha deixado qualquer tipo de digital que pudesse ser explorada em delação na Lava Jato. Meirelles sempre foi reconhecido por ser organizado, metódico e precavido. Se cercou de conselheiros jurídicos por toda a carreira.

Desilusão Mesmo aliados do senador Aécio Neves (MG) reconhecem que não há clima para ele permanecer no posto de presidente do PSDB. Integrantes da campanha presidencial do tucano, em 2014, choraram com o relato de que ele pediu R$ 2 milhões a Joesley Batista.

Chico e Francisco Apesar da euforia com as acusações contra Temer e Aécio, a oposição, nos bastidores, se prepara para “fatos novos”, que envolvam integrantes de partidos da esquerda. Um dirigente de sigla aliada ao PT advertiu: “Não para por aí”.

Oportunidade A Frente Brasil Popular vai fazer do ato contra as reformas, dia 24, em Brasília, um movimento pelas “Diretas já”.

Mudou O resultado da concorrência de propaganda da Presidência sofreu uma reviravolta. A DPZ, agência que havia se qualificado em terceiro lugar, foi desclassificada pela comissão de licitação.

Conhecidos Com isso, abriu lugar para uma outra empresa, a Calia, cujo principal sócio é Gustavo Mouco, irmão do publicitário e consultor do presidente Michel Temer, Elsinho Mouco. A DPZ já avisou que vai recorrer.

Formal Elsinho disse que foi pego de surpresa. “A DPZ cometeu um erro documental. Poderá recorrer.”

De casa Isabela, mulher de Marcelo Odebrecht, circula com tranquilidade na sede da PF, em Curitiba. Nesta quarta, pegou o crachá da recepcionista para abrir e fechar a catraca para visitas


TIROTEIO

Inimaginável tamanha petulância do núcleo do governo. No meio de tantas operações fazer algo assim? Põe ousadia nisso.

DE VICENTE CÂNDIDO (PT-SP), deputado federal, a respeito da delação premiada de donos da JBS, que gravaram diálogos com o presidente Temer.


CONTRAPONTO

Sobre emendas e animais

Na sessão desta terça (16), o líder da minoria na Câmara, deputado José Guimarães (PT-CE), criticou Michel Temer pelo que chamou de “farra fiscal”. Citou o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), que mandou de volta à Câmara a MP do novo Refis, alegando que a medida abrigava os conhecidos “jabutis”, jargão do Congresso que identifica assuntos desconexos inseridos nessas propostas.

— Ele (Eunício) mandou retirar todos os jabutis da MP 766, porque disse que são tão pesados os jabutis, são tão gordos, que não conseguem vir nem em uma carroça do Senado para a Câmara dos Deputados.