STF avalia que morte de Teori ‘atinge coração da Lava Jato’ e que operação vai desacelerar

Compasso de espera Nas horas seguintes à confirmação da morte de Teori Zavascki, ministros do Supremo Tribunal Federal avaliavam que a Lava Jato vai, sim, desacelerar. Afora a espera pela definição de um novo relator dos processos, afirmam que Teori carregava consigo toda a memória da operação desde o seu início, há mais de dois anos, e que demorará até que o próximo titular da caneta se inteire da complexidade do caso. “Atingiu-se o coração da Lava Jato”, resume um ministro da corte.

Deixa disso Outro integrante da corte, confrontado com a hipótese de sabotagem, disse preferir não acreditar em teoria da conspiração. “Seria diabólico demais.”

Via rápida No Planalto, Michel Temer foi aconselhado a não tardar muito para indicar o substituto de Teori no Supremo. Um dos auxiliares do presidente diz que “o momento exige celeridade”.

Novelo de lã Outro auxiliar próximo de Temer avalia que, apesar de todos os conselhos, a decisão pode não ser tão imediata. “Quando começa a pensar, um nome leva a outro e aí já viu…”, especula.

Às pressas Caso prevaleça o entendimento de que o ministro indicado por Temer herdará a relatoria da Lava Jato, há no governo quem defenda que o Senado realize uma sessão extraordinária para sabatiná-lo no recesso.

Olho aberto Assim que começaram as especulações sobre a sucessão, passou a circular em grupos de WhatsApp de advogados da Lava Jato a decisão de 2009 em que Gilmar Mendes, então presidente do STF, redistribuiu os casos relatados por Menezes Direito, morto naquele ano.

Para todos Parte desses defensores aposta que a previsão de urgência para réus presos será usada pela ministra Cármen Lúcia, presidente da corte, para adotar agilidade na redistribuição de todas as ações da Lava Jato.

Passo para trás Na avaliação de advogados que atuam na operação, o atraso no processo deve estimular vazamentos das delações, prestes a se tornarem públicas.

Novos horizontes O Planalto trabalha com a perspectiva de que, com o cancelamento das audiências previstas para a próxima semana, a homologação dos acordos de colaboração da Odebrecht já não ocorra em fevereiro.

Memórias Quando Temer decidiu tornar Alexandre de Moraes chefe da Advocacia-Geral da União — antes de nomeá-lo seu ministro da Justiça –, lembrou a alguns aliados que a carreira era uma espécie de caminho natural para uma vaga no Supremo.

Igual, mas diferente Ministros da Esplanada defendem sua indicação. Auxiliares do presidente dizem, no entanto, que o turbilhão político em que se meteu, principalmente com a crise dos presídios, dificulta sua escolha.

QG Na Operação Lava Jato, o hotel Emiliano, em São Paulo — cujo dono, Carlos Alberto Filgueiras, era também proprietário do avião que sofreu o acidente — aparece em depoimentos como local de encontro para conversas e repasses de propina.

Verão passado Em delação, o dono da construtora UTC, Ricardo Pessoa, disse ter se reunido com Renan Calheiros no hotel, onde o presidente do Senado estava hospedado, para negociar doação à campanha do filho dele ao governo de Alagoas.

Te conheço Réu na Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu já havia voado várias vezes na mesma aeronave em que estava Teori. Antes de ser preso, o petista era habitué da casa de luxo de Filgueiras no litoral do Rio de Janeiro.

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Magistério Teori estabeleceu ótima relação com o Ministério Público nos tempos de universidade. Professor de direito civil e autor de livro sobre processo coletivo — tema caro à instituição — aproximou-se de procuradores.


TIROTEIO

As artimanhas do destino prepararam uma cilada, ceifando a vida de um juiz notável, um amigo exemplar, um brasileiro decente.

DO MINISTRO GILMAR MENDES (STF), sobre o acidente aéreo no Rio de Janeiro que matou o colega Teori Zavascki, relator da Operação Lava Jato no Supremo.


CONTRAPONTO

Trocando em miúdos

Na sabatina a que foi submetido em 2012, antes de o Senado confirmar sua indicação para o Supremo Tribunal Federal, Teori Zavascki foi confrontado com algumas questões que poderiam provocar saias justas com os parlamentares. Instado a falar sobre ativismo judiciário e a relação entre Congresso e Supremo, tentou ser polido:

— Especialmente depois da Constituição de 1988, houve um reforço no poder de controle jurisdicional das omissões legislativas… — argumentou.

Aloysio Nunes (PSDB-SP) interveio:

— V. Exa. não pode dizer, mas eu digo: em muitos casos, isso é um remédio à preguiça legislativa!