Lava Jato envolve três instituições na mesma semana e amplia crise

Painel

NATUZA NERY (interina)

Nuvem cinza A apuração de irregularidades na Petrobras varreu nesta semana três instituições para o tapete da Lava Jato. De uma só vez, Senado, Câmara e Tribunal de Contas da União foram atingidos por novas suspeitas e acusações. O Judiciário virou alvo de investigados. Ministério Público e Polícia Federal se preparam contra retaliações. O governo teme que a ira do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), paralise o país politicamente e abra caminho para um pedido de impeachment.

Em riste Cunha recebeu nos últimos dias alertas de que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pode pedir seu afastamento do comando da Câmara.

Confusão No TCU, o clima também é péssimo. O filho de Aroldo Cedraz, presidente da corte, é suspeito de tirar proveito do cargo do pai para obter vantagens. O chefe do tribunal, até pouco tempo atrás defensor de Dilma no caso das pedaladas fiscais, vê parte do governo por trás do desgaste de sua família.

Chama… Na conversa reservada que teve com Renan Calheiros (PMDB-AL) na manhã de terça-feira, Dilma Rousseff fez uma defesa enfática do governo no julgamento das pedaladas. Dos nove ministros do TCU, três são indicações do PMDB.

… o síndico A presidente da República disse a Renan que as manobras têm por base uma norma do Banco Central que sempre foi aprovada pelo tribunal, devido a um vácuo legal. Alguns caciques peemedebistas começam a encampar esse discurso.

Terapia A reunião da dupla teve um tom de desabafo. A petista falou sobre os dramas do poder e lamentou até os problemas de saúde da mãe, Dilma Jane.

Amarras Em recente encontro com Dilma, Lula fez um pedido à sucessora: o Banco Central precisa reduzir o compulsório (depósito obrigatório feito pelos bancos comerciais) para aumentar a circulação de dinheiro no mercado e, assim, liberar mais crédito na praça.

Solução antiga O ex-presidente defendeu, ainda, uma linha forte do BNDES para facilitar empréstimos a micro e pequenas empresas como forma de esquentar a economia. O petista sempre diz que a saída para tempos difíceis é estimular o mercado interno pelo consumo.

Happy… Mais de cem deputados se reuniram na noite de quarta no Bar do Alemão, estabelecimento a poucos quilômetros do Palácio da Alvorada, para celebrar, ao lado de Eduardo Cunha, o recesso parlamentar. Foi quando alguém decidiu puxar uma salva de palmas.

… hour “E viva o impeachment!”, gritou um congressista, acompanhado pelos demais. Havia aliados e oposicionistas no local.

Lamparina O presidente do PDT, Carlos Lupi, segue na base por enquanto, mas prevê o rompimento de seu partido com o governo. O dirigente verbaliza o que muitos petistas afirmam nos bastidores. “Está faltando liderança para sair da crise”, diz. “Eu não vejo nem vagalume no fim do túnel –quanto menos luz!”, completa.

Céu Um importante apoiador da candidatura de Geraldo Alckmin à Presidência da República avalia que, em 2018, os eleitores brasileiros votarão em alguém com jeito de bom moço. “Quando você está vivendo num clima de inferno, procura alguém com cara de anjo para se salvar”, comenta o auxiliar.

Fatura Aliados do governador estão preocupados com a reação negativa às mudanças na cobrança da Nota Fiscal Paulista, anunciadas na semana passada. Segundo o grupo político do governador, a redução no percentual de devolução (de 30% a 20%) e o adiamento do pagamento da parcela semestral para abril de 2016 atingem em cheio o eleitorado cativo do PSDB.


TIROTEIO

Eu não vou reagir com o estômago, não sou disso. Vou reagir com a cabeça.

DO DEPUTADO EDUARDO CUNHA (PMDB-RJ), após ser acusado pelo empreiteiro Julio Camargo de pedir US$ 5 milhões em propina.


CONTRAPONTO

Pinda

No aniversário de 310 anos de Pindamonhangaba, comemorado na última semana, o governador Geraldo Alckmin (PSDB) ouviu a queixa do prefeito da cidade, o tucano Vito Ardito Lerário, conhecido como Vitão:

—Governador, as cobranças não têm fim! O sr. ajudou e nós fizemos um quilômetro de asfalto na zona rural, uma antiga reivindicação nossa.

Alckmin ficou intrigado com a reclamação. Vitão continuou:

—Uma senhora veio reclamar que, por causa da estrada boa, morreram várias galinhas atropeladas. Agora ela quer que eu faça uma lombada! Não tem fim, governador!