Ibope produziu clima de tensão nas campanhas de Dilma e Aécio
Corrida contra o tempo Os números do Ibope produziram o mesmo clima de tensão nas campanhas de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Os petistas estão em alerta com a rápida conversão dos insatisfeitos com o governo em eleitores de Marina Silva (PSB), e já começaram a treinar aliados para antecipar o embate com a ex-senadora. Os tucanos têm 39 dias, a contar de hoje, para ultrapassar Marina e evitar um fiasco histórico: desde 1994, o PSDB nunca saiu da disputa no primeiro turno.
Pulso frouxo O comitê de Dilma começou a ajustar a mira contra Marina. Dirigentes regionais foram orientados a dizer que a candidata não teria capacidade e experiência para conduzir o Brasil em uma crise econômica como a iniciada em 2008.
Vilã do PAC Outra tática será carimbar Marina como uma ex-ministra do Meio Ambiente inflexível, que atrasou projetos porque não conseguia dialogar com outros setores do governo.
Não volta, Lula Um velho conhecedor do ex-presidente afirma que a sensação de insatisfação com o PT parece tão forte que até ele teria dificuldades para bater Marina. “Imagina se o Lula volta e perde?”, comenta.
Sandálias… Para a campanha de Marina, é preciso esperar para saber se a intenção de voto nela está consolidada ou se ainda se deve, em parte, à comoção com a tragédia que matou Eduardo Campos. O coordenador Walter Feldman pede cautela: “Os números só terão peso nas próximas pesquisas”.
… da humildade Por enquanto, a ordem é manter os pés no chão com os números da pesquisa. Marina orientou os mais empolgados a “calçar os chinelos de algodão”.
Efeito gravitacional O PSB espera que a consolidação de Marina à frente de Aécio contenha, ao menos por ora, a ameaça de debandada de aliados nos Estados.
Decoreba Pesquisas do PT mostraram que Dilma passou frieza no início do debate da Band, dando a impressão de estar repetindo informações decoradas. Ela transmitiu mais confiança nos blocos seguintes.
Olha pra cá A presidente errou de câmera logo na primeira pergunta. Os cinegrafistas tiveram que sacudir os braços para que ela olhasse para o lugar certo.
Parlatório Dilma repetiu a expressão “no que se refere” três vezes na primeira resposta, e teve de interromper a fala duas vezes porque o tempo acabou antes do raciocínio.
Marinês 2.0 As falas de Marina causaram impacto positivo nas pesquisas, mas alguns eleitores não conseguiram explicar o conteúdo de seu discurso.
Não vira o disco Dirigentes do PSB acreditam que a ex-senadora ainda tem espaço para crescer com o discurso de renovação política, mesmo que não aprofunde novas propostas.
Sem modéstia De Beto Albuquerque, vice de Marina, explicando por que ela dirigiu a primeira pergunta a Dilma: “Temos que mirar quem está na frente, não quem já deixamos para trás”.
Deixa ela Do vice-presidente Michel Temer, sobre a vantagem de Marina na simulação de segundo turno do Ibope: “Pesquisa nessa fase varia muito. Há pouco tempo, o Aécio aparecia empatado conosco. Veja onde ele está agora…”
Deixa comigo Temer diz que o candidato do PMDB ao governo paulista, Paulo Skaf, vai subir ao palanque de Dilma em Jales, no sábado. Amarrado? “Não vai precisar”, brincou.
TIROTEIO
“Marina e seus aliados adotam a retórica da hipocrisia para camuflar suas posições. Eles atrasaram as pesquisas em mais de 10 anos.”
DA SENADORA KÁTIA ABREU (PMDB-TO), sobre frase de João Paulo Capobianco de que Marina Silva (PSB) não é “contra nem a favor dos transgênicos”.
CONTRAPONTO
Nossos comerciais, por favor
Em 1989, os debates presidenciais eram mais quentes. Na Bandeirantes, Paulo Maluf (PDS) bateu boca com Leonel Brizola (PDT), que tentava interrompê-lo.
—Desequilibrado!— gritou Maluf.
—Filhote da ditadura!— respondeu Brizola.
Maluf, aliado dos militares, debochou do ex-exilado:
—Passou 15 anos no estrangeiro e não aprendeu nada…
A plateia vibrou. Brizola, irritado, passou a criticá-la.
—Malufistas! Todos engordaram na ditadura!
Com o auditório conflagrado, só restou à mediadora Marília Gabriela uma alternativa: chamar o intervalo.